7.11.13

Há uma linha que separa uma coisa de jeito de uma coisa sem jeito nenhum

Senhor Arménio Carlos e seus camaradas: queria convidá-lo a, na próxima greve de comboios que incitar, vir comigo num autocarro como eu vim. Espalmadinho contra o vidro da frente do dito cujo. 

Toda a gente tem direito à greve, concordaremos. E não quero tornar este meu opinanço numa discussão filosófica e demagógica sobre o direito à greve. Porque não é isso que estamos a discutir. O que a gente pode discutir, isso sim, será o resultado de uma greve. Ou, como tem sido nos últimos tempos, uma orgia de greves atrás de greves que dão em absolutamente nada. 

O sindicalismo português vive ainda preso a Abril. Não às suas conquistas, hoje felizmente consideradas direitos, mas sim ao modus operandi da altura. Com os mesmos slogans e tudo. E o punho erguido e tal. É obsoleto.

Mas também não quero falar disso. O estilo é uma opção pessoal. Ou, neste caso, do colectivo.

O que eu gostaria de saber é se estas greves trazem algo de novo? Se, de facto, conseguem mudar as atitutes cegas deste governo? Pois calculo que não. E certamente também calculará, porque as greves continuam a acontecer.

Mas queria ser um nadinha mais prático. Porque se todos nós temos direito à greve e a reivindicar os nossos direitos, também devemos viver na realidade. Não fazer política - ou gerrilha ideológica - usando quem devia estar a seu lado: o povão anónimo.
Ou seja, se gostaria de conduzir um metro por três horas ou ter um dia de férias no meu dia de aniversário ou receber pipas de guito como uns e outros? Gostava. Mas o país não o pode pagar neste momento.

A ideologia é uma coisa belíssima. Mas não pode fugir do pragmatismo da realidade. Porque se todos queremos mais e melhor para nós próprios e para os outros, devemos fazer isso a montante - em sede política - e não a jusante - nos comboios e tudo mais. Sobretudo quando o resultado, lamento informá-lo, é zero.

Este meu desabafo não é resultado de me ter tornado um peão dos capitalistas e burgueses de São Bento - que argumento tão fácil. É, isso sim, um desabafo de quem tem que levar cortes no ordenado e andar como sardinha em lata!

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