29.12.13

Dúvidas que me assolam ao final de um domingo enquanto passo a ferro e vejo as notícias

Falavam na televisão dos aumentos de preços para este ano que aí vem. E diziam, entre muitas outras coisas, que o preço da electricidade vai aumentar. Também porque há uma grande disparidade entre o custo real da produção de energia e o custo que os clientes pagam.

Mas eu pergunto-me: então se a EDP apresenta milhões de euros de lucro, como é que a disparidade é assim tão grande?

(Sim, sei que tem outros negócios. Sim, sei que é suposto dar lucro. Sim, sei que há outras empresas no mercado. A isto digo que se recebe tanto em lucros por um lado, e dada a sua posição dominante e numa área fulcral para qualquer país, bem podia ter alguma responsabilidade social e, sobretudo ética, por outro. E que as outras empresas vão a reboque, como se isto fosse tudo concertado.)

19.12.13

Video killed the lawyers



Este vídeo anda nas bocas do mundo. Parece prenunciar o fim do mesmo. E eu, coitado, vejo-o e penso "aleluia".

Já debati a questão. Já me foi dito que não é próprio de profissionais. Que as senhoras estão demasiado sensuais e que vendem é outra coisa. Que trata levianamente o objecto que parecem querer vender.

E eu penso "balelas".

E ando a pensar muito, pelos vistos.

Eu olho para o vídeo e vejo umas senhoras bem parecidas. Que até podem ser competentíssimas, vejam bem! E que escolheram uma estratégia arrojada de venda do seu produto.
É que me faz imensa impressão alguém ver uma senhora bem apresentada e pensar logo que é uma marioneta no mundo dos negócios e que é uma tontinha que se deixa objectificar.

"And so what?!", que eu sou moderno e penso até em inglês.

O que lamento é que se ligue profissionalismo a cinzentismo, a bustos necessariamente tapados até ao gargalo e à ausência de holofotes. Que se o faça caber unicamente nos limites do sistema e do que é convencional.

Parece-me que as mulheres são presas por terem cão e por não terem. Sempre e constantemente. Porque se não se chegam à frente, precisam de se emancipar. E depois se se chegam à frente, é preciso serem pias e sossegadinhas e beatas.

Deontologia à parte, se eu precisar dos serviços das senhoras - e tiver guito, que os modelitos não se pagam sozinhos - terei muito prazer em me sentar na mesma sala que uma pessoa elegante.

A prova

Esta questão da prova dos professores tem atormentado os meus pensamentos. 
E chego a algumas conclusões que me fazem pensar ainda mais. Coisa que evito, que os meus neurónios não têm energia eterna.

Conclusão primeira: este governo faz tudo mal. Ou quase tudo. 
Subtraiamos a forma da prova ou a sua necessidade, e chegamos à conclusão que o governo não dialoga, não comunica, não procura formas de entendimento.
Nada de novo, é certo, mas muito triste. Sobretudo numa área tão importante como a educação.

Conclusão segunda: esta corporação apertadinha que é a dos professores é levada da breca. Porque ainda não vi opções à prova. E uma coisa que acho, se querem que vos diga, é que a avaliação como é feita hoje é que não está bem.
Não digo com isto que concordo com esta prova digna da quarta classe e absolutamente injusta, porque genérica e simplista, mas uma avaliação baseada na antiguidade - antiguidade não é posto, meus amigos! - nas notas que se teve na universidade - e tão díspares que elas são! - e num relatório para a passagem de escalão é igual a nada, é igual à promoção do mediano e é igual a manutenção do status quo.

Conclusão terceira: não há estratégias na política da educação. E não é coisa deste governo somente.
Há áreas da governação que requerem uma cooperação política alargada. E a educação é uma delas. 
Não podemos ter políticas sempre a mudar, direcções contrárias a cada ciclo político. Mesmo que seja no que toca à avaliação dos professores, esses agentes fundamentais na formação - não somente pedagógica - deste país. É que não pode ser mesmo.
Um amplo consenso é obrigatório nesta área. E não unicamente no IRC para as PME.

Conclusão quarta: quem está no quadro nem precisa de se chatear. 
Mas, lá está, voltamos ao mesmo: a avaliação. Porque não é por se estar no quadro, e com um modelo de avaliação destes, que se garantem bons profissionais. É que não mesmo.
Alguém comentava no Facebook que os maus professores que havia tido seriam, possivelmente, os do quadro. E isso deixou-me mesmo a pensar...

Com isto tudo, acho, sinceramente, que estão todos errados. Uns porque vivem lá nos gabinetes e acham que experimentalismos pseudo-iluminados é que são bons; outros porque parecem querer perpetuar um sistema que não beneficia os melhores e os que vão além do esperado.

O que eu queria na avaliação era um sistema objectivo, centrado na realidade da educação e nas necessidades dos alunos. Esses peões no meio disto tudo.
Gostaria de ver os professores perfilados nas listas pelo valor do que trazem de novo, de melhor, de inovador. 

Como lá chegar não seria fácil. Seriam precisas conversas, descer à realidade, desalinhar ideias feitas, acabar com feudos e preconceitos. E isso leva tempo. 
E vontade. Muita.

10.12.13

Razão tem-la a minha prima

Este governo tão preocupado com os pobrezinhos veio com mais uma ideia peregrina: ter em conta a situação familiar na hora de despedir alguém.

Isto é tudo muito giro, mas como é que se pode atirar uma acha tão subjectiva para a fogueira que é um despedimento? Como é que isto é possível? 

Para que serve ser competente se, no fim, isso não vale - como tantas outras vezes - para nada?

A política de emprego e de natalidade não pode ser baseada em competição mortal e subjectiva deste nível. Deve, isso sim, ser feita através de uma política de educação a custo baixo, de políticas de licença de maternidade prolongadas e ajustadas às necessidades, de acompanhamento em creches e escolas adaptado aos horários de hoje em dia, de ajudas ao longo da vida das crianças que sejam de facto válidas e construtivas.

A juntar a isto, vai o governo olhar para o IRS de forma a dar ainda mais benefícios às famílias grandes. É de louvar, sim. Sem sarcasmo. 
Mas levará aqui o governo em conta a situação familiar? É que uma família grande a brincar aos pobrezinhos na Comporta é bem diferente de uma família grande a ficar sem emprego com a concessão esperada em Viana do Castelo.

Mas a iluminada direita portuguesa, tão maravilhada com os conceitos bom-cristãos, não deve ir na conversa...


A senhora só se pode ter enganado sobre o erro

A senhora presidente do FMI, essa miss de cabelo grisalho, veio agora dizer que parece que os grandes sábios tecnocratas não previram bem os efeitos da austeridade expresso.

Então e agora? Agora que estamos todos entalados com impostos até à ponta dos cabelos e a perder benefícios que temos vindo a ganhar desde há décadas. Como é que é? Quem é que vai ser chamado a responder por este simples erro dos burocratas excelsos que nos está a fazer regredir décadas?

Haja mais tempo. Haja mais inter-ajuda desinteressada. E, sobretudo, haja milhentas lições aprendidas para o futuro.

28.11.13

Milagre, senhor. São delírios.

Ouvi a entrevista do senhor ministro Aguiar Branco na SIC. E fiquei abismado com as atrocidades que saíram da sua boca.

A coisa começou logo bem quando o senhor ministro fala de intenções de se criar emprego, de trazer mais-valias, de continuar com o trabalho e tudo mais, mas não há nada acordado. Não há nada em concreto que diga que isso vai acontecer.

A verborreira vergonhosa continuou com o senhor ministro a dizer que iriam ser criados empregos.
E eu espasmo-me ainda neste momento. Porque eu não sou muito bom a problemas matemáticos. Mas o senhor ministro ainda deve ser pior. Ele e os seus sábios assessores.
Ora, se os Estaleiros de Viana têm mais de seiscentos trabalhadores que vão agora todos para a rua e vão ser criados pouco mais de quatrocentos empregos, como é que há criação de emprego?! Mesmo descontando os que irão para a reforma - porque a ela têm direito e saem baratíssimos nos dias que correm! - como é que há criação efectiva de emprego?! 

Eu devo ser mesmo muito burro. 

Mas ele não parou. Porque o senhor ministro também falou da absorção lógica - ainda que não acordada em lado nenhum - de trabalhadores pela concessionária ganhadora dos Estaleiros.
Mais uma vez eu não percebo. Porque se é verdade que seria de esperar que essa concessionária venha a contratar trabalhadores com know how, também é verdade que não tem que o fazer e, pior ainda, não lhes vai certamente pagar o que estavam a receber depois de terem evoluído na carreira. Porquê? Porque é uma nova empresa e o passado está lá atrás.

Reconheço que haja problemas e que se encontrem soluções. E também não defendo que tudo fique nas mãos do Estado que, para mim, se deve preocupar com as áreas estratégicas de um país e não dar miminhos a tudo.
Mas despachar centenas de pessoas para o desemprego esperando que o mercado venha a corrigir isso é um erro. Um erro de quem não conhece a dignidade da pessoa, quem não quer saber das consequências de uma assinatura num decreto ou num acordo e, digo eu, de alguém muito crédulo na bondade dos abutres.

Onde é que eu já vi isto?

7.11.13

Há uma linha que separa uma coisa de jeito de uma coisa sem jeito nenhum

Senhor Arménio Carlos e seus camaradas: queria convidá-lo a, na próxima greve de comboios que incitar, vir comigo num autocarro como eu vim. Espalmadinho contra o vidro da frente do dito cujo. 

Toda a gente tem direito à greve, concordaremos. E não quero tornar este meu opinanço numa discussão filosófica e demagógica sobre o direito à greve. Porque não é isso que estamos a discutir. O que a gente pode discutir, isso sim, será o resultado de uma greve. Ou, como tem sido nos últimos tempos, uma orgia de greves atrás de greves que dão em absolutamente nada. 

O sindicalismo português vive ainda preso a Abril. Não às suas conquistas, hoje felizmente consideradas direitos, mas sim ao modus operandi da altura. Com os mesmos slogans e tudo. E o punho erguido e tal. É obsoleto.

Mas também não quero falar disso. O estilo é uma opção pessoal. Ou, neste caso, do colectivo.

O que eu gostaria de saber é se estas greves trazem algo de novo? Se, de facto, conseguem mudar as atitutes cegas deste governo? Pois calculo que não. E certamente também calculará, porque as greves continuam a acontecer.

Mas queria ser um nadinha mais prático. Porque se todos nós temos direito à greve e a reivindicar os nossos direitos, também devemos viver na realidade. Não fazer política - ou gerrilha ideológica - usando quem devia estar a seu lado: o povão anónimo.
Ou seja, se gostaria de conduzir um metro por três horas ou ter um dia de férias no meu dia de aniversário ou receber pipas de guito como uns e outros? Gostava. Mas o país não o pode pagar neste momento.

A ideologia é uma coisa belíssima. Mas não pode fugir do pragmatismo da realidade. Porque se todos queremos mais e melhor para nós próprios e para os outros, devemos fazer isso a montante - em sede política - e não a jusante - nos comboios e tudo mais. Sobretudo quando o resultado, lamento informá-lo, é zero.

Este meu desabafo não é resultado de me ter tornado um peão dos capitalistas e burgueses de São Bento - que argumento tão fácil. É, isso sim, um desabafo de quem tem que levar cortes no ordenado e andar como sardinha em lata!

6.8.13

Obviamente demita-o

Era o que diria eu à senhora ministra das Finanças se me cruzasse com ela no autocarro às sete da manhã e se calhasse em conversa o secretário de estado do tesouro.

Porque se é vergonhoso tentar esconder a dívida pública com contas loucas, não é menos vergonhoso vir a público mentir. Claramente mentir sobre o que se sabe e se pretendia ter esquecido.

Vergonhoso é claramente um eufemismo.

4.8.13

Valha-nos a Espírito Santo

É graças a ela que a silly season se tornou ainda mais silly do que o costume. E por isso lhe agradeço.

Foi uma piadola de muito mau gosto, sobretudo numa altura em que todos - ou melhor - quem trabalha passa, em geral, por um mau bocado. Tirando todos os outros que nem emprego têm neste momento. E que são muitos. Talvez a menina Espírito Santo pudesse, antes, brincar à caridadezinha. Dava mais jeito.

Dito isto, e como disse esse arauto da cultura lusa, o Tony Carreira, o sucesso cria inveja (ou coisa parecida) e é bem verdade. Então não gostaríamos todos de estar na Comporta à beira da piscina a brincar aos probrezinhos? Não gostaríamos todos não ter que pôr o despertador para as seis da manhã e termos o pequeno almoço feito pela empregada à espera? Não gostaríamos todos de não nos termos que preocupar com o dinheiro até ao final do mês?
Pois, eu adoraria e sonho por esse dia.

Mas uma coisa é certa: no dia em que pertencer ao filão dos Espírito Santos - e outros - não vou andar a dizer disparates a revistas, jornais e folhetins em geral. Porque ainda saberei medir o que digo e ver a realidade verdadeira à minha volta.

Entretanto, ela retratou-se. E lá anda na Comporta. Quero ver dia 10 de Agosto. Só por curiosidade.

2.8.13

A novela

Tenho andado a pensar nesta novela que foi a demissão irrevogável do Portas e no apoio incondicional à estabilidade de sua excelência, o presidente da república.
Quando a coisa saiu cá para fora, fiquei estupefacto. Pensei que era o Portas a fazer uma fita das suas. Mas das grandes e muito, muito feias. Mas fui esperando para ver.
Hoje acho que o golpe absolutamente palaciano que deu – e isto não é uma piadola fácil ao facto de agora trabalhar num T0 no Palácio das Laranjeiras – foi genial.
É a única coisa que me ocorre dizer. Porque segurou de forma muito mais forte o poder que tinha dentro do governo. Digamos que o agarrou pelos tomates e apertou-os.
Eu jamais seria capaz de dizer que o agora número dois do governo não tem princípios nenhuns, que é um oportunista político e que se manteve no governo depois de se demitir irrevogavelmente mesmo com a manutenção da senhora ministra das Finanças. Jamais!
E a cereja no topo do bolo vem em forma da sua actual posição de número dois quando o seu partido não espelha de forma alguma uma segunda posição nos votos. Não fora a coligação e o Paulinho das feiras estaria a virar frangos na assembleia da república.
Ora, se esta novela me deixou abismado, mais ainda me deixou boquiaberto – ao ponto de ter desencaixado o maxilar – a posição tomada pelo mais elevado magistrado da nossa nação, o Cavaco.
Ou eu sou muito parvo ou o senhor anda muito trocado e não sabe o que quer dizer ser pela continuidade, ser da paz e do bem. Eu acho que sou muito parvo, só pode.
Quando ele falou ao país dizendo que queria uma concertação entre os partidos do arco da governação, caiu-me tudo ao chão. Acho que mais pela surpresa de suas palavras – as últimas que me haviam surpreendido foram aquando da sua explicação da aceitação da lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo – do que propriamente pelas consequências das suas palavras.
Vai daí, foi a vergonha que se seguiu. Uns fazem birra, outros fazem birra. Ninguém se entende, mas parece que há um pontinho pequenino onde, afinal, há entendimento.
Quero com isto dizer que acho esta novela e, sobretudo, o seu desfecho absolutamente vergonhoso. Não pelo Portas, não pelo Cavaco – e acho que até lhes tenho que agradecer! – mas sim pela absoluta falta de carácter, de sentido de Estado e de sentido de “vamos levar isto para a frente” dos nossos partidos do arco de governação (que os outros dizem coisas ainda mais fantásticas).
É triste que, aos 34 anos, me aperceba que vivo num país de políticos que só fazem política. Ou seja, usam a oratória, regorgitam ideias, batalham uns com os outros mas, no fundo, não chegam a lado nenhum.
Quando me diziam no Japão que lá se governa por consensos – com todas as outras falhas que aquele sistema tem – ou que na Escandinávia se fazem acordos interpartidários para as grandes áreas de governação, eu achava que não podia ser e que não fazia sentido. Mas talvez fosse novo e achasse que guerilha política é que era. Hoje, porém, vejo que o objectivo último da política devia ser esse: alcançar consensos, sim. Sem haver obrigação institucional para isso, mas uma pressão ética e moral para tal.
Era bom que os líderes dos nossos partidos se concentrassem nisso, para que as políticas de crescimento de que tanto precisamos possam ser continuadas e para que o país real – que claramente não é o do Palácio das Laranjeiras – possa saír do buraco.
Portugal não é pior do que qualquer outro país no mundo. Só merece é gente à altura de o governar.

Mas não me posso ir embora sem falar de uma outra novela: a dos swaps.
Eu sou da opinião que, em política, as aparências contam. Como diria a menina que foi corrida do senado texano por dizer o que pensava “vocês são o meu governo e, sim, posso julgar-vos”. Se há gente com o nome ligado, ainda que remotamente, a esta polémica que tanto dinheiro nos custa, acho que se deviam chegar à frente e esclarecer as coisas. Para o bem ou para o mal, a ministra das Finanças já o fez. Mas o governo perseguir gestores envolvidos nisto e depois nomear outras pessoas potencialmente ligadas a esta cena para gerir o drama desta mesma cena é que não está com nada.
Esta falta de coerência do governo – que tantas vezes se faz notar – cai mal no povão. Mas, como se vê, o povão é o que menos importa a certa gente.
E, mais, a oposição pedir demissão depois de demissão também não traz nada de novo à novela. A oposição devia era documentar-se, provar, apurar e depois dar o golpe de misericórdia.
Porque uma coisa são as aparências para quem vota e o que se tira daí, outra coisa são acusações políticas.

4.4.13

As carnes de Cavaco

Cavaco parece estar de dieta. O país no reboliço em que está e ele a dizer que já nem devia ir almoçar nem, quiçá, lanchar o seu cházinho com tanta carninha lusa que estava a experimentar no país profundo.
O facto de o meu presidente da minha república ter que petiscar porque não tem trocos para almoçar e lanchar - devia ser o que ele estava a tentar dizer - preocupa-me. Somente porque não quero um presidente anorético, que já bem me basta um presidente quedo e mudo.

O seu silêncio inquieta-me. O seu silêncio perturba-me muito mais do que os devaneios vitimizantes de Sócrates. 
Continuo a achar que os políticos - incluindo o senhor presidente da república - não se podem arrogar o direito de não falar, de não comentar quando confrontados com questões importantes.

Eu quero que Cavaco fale. Que corrija quem deve, que admoeste quem precisa, que congratule quem merece. Senão, mais vale metê-lo numa cadeira perfilada num qualquer lar. Da Santa Casa, vá.

23.3.13

Sócrates a vir: clímax ou anti-clímax

Comecei este post já várias vezes, que não sei como o hei-de escrever de forma a dizer o que acho e a não ter que depois levar com uma petição para me calar... Mas, olhem, cá vai:

O regresso do Sócrates espanta-me, sim, mas não me tira o sono. O que me tira o sono são o vento e a chuva que teimam em voltar quase todas as noites.
Seja como for, o nosso tão adorado ex-primeiro ministro vai voltar às lides públicas de televisão e a RTP já tem assegurada uma batelada de espectadores e spin-offs de tudo o que Sócrates disser ou não disser. Isso vos digo eu.

Ele, por acaso, vem para a televisão pública. E nem virá receber nada. Mas então e se viesse? Qual é o drama? Se não o querem ouvir, não o oiçam. O facto de todos pagarmos impostos para manter a RTP não nos dá propriamente o direito de interferir nas suas opções editoriais. E quem o quiser fazer tem à sua disposição o provedor. Mas, lembrem-se, que Sócrates na televisão pública portuguesa ainda vai dar dinheiro.
(Por falar nisto, lembrem-me de escrever para a TVI para calarem a Isilda. Ou então lembrem-me para mudar de canal.)

E depois há um outro plano: o político. 
Como não há oposição neste país e o governo é o que é a comunicar, lá vem um manganão a atirar para o George Clooney que arrasa qualquer oratória de qualquer político deste momento. Mais, virá dar a sua opinião que conta o que conta e que pode ser desmontada pelos seus demais adversários. Isso, curiosamente, é que é instigar à crítica e à acção políticas. Não este marasmo idiota do "vamos fazer uma moção de censura mas não dizemos quando". Ou, ainda melhor, "eu sou o presidente por isso não tenho que dizer nada". Poupem-me. Os políticos querem-se activos e sem tabus.

No fundo, espero mesmo muito deste regresso. Quero ver no que vai dar e nas reacções do muito pessoal que será visado nos comentários que sairão da boca daquele senhor.

Por fim, só quero acrescentar que se o Sócrates devia ser levado a tribunal, pois então que o seja. A forma como a justiça (não) funciona neste país não é bem culpa dele. E eu sou muito céptico no que toca à justiça popular. Para isso, mudo-me para o norte da Nigéria, que é quase a mesma coisa.

Mas vivam as petições. Porque o mundo faz-se também de opiniões e de intervenção cívica.

6.3.13

Eu bem que lhe Mexia

Estou a ouvir a entrevista do senhor Mexia na RTP 1. E a sua reacção às perguntas relativas aos lucros da EDP versus o preço da electricidade foi muito interessante. Porque ele, pura e simplesmente, deu ali umas voltas e não respondeu.

É bem verdade que a EDP é uma empresa que precisa de dar lucro. E ainda bem que é assim. Mas precisaria ela de dar milhares de milhões de lucros numa altura destas? Ou, até, em qualquer altura num país destes? Eu acho que não.

O senhor Mexia veio com a conversa do costume de que o aumento do preço da electricidade não tem acompanhado o aumento da inflacção. Curiosamente, o meu salário também não. Ele também disse que o preço praticado em Portugal fica abaixo do preço médio praticado na Europa. Curiosamente, o meu salário fica muito abaixo. 

Depois deixei de ouvir os seus argumentos. Quando se faz de advogado do diabo num mundo completamente autista no que toca às necessidades dos comuns mortais, eu bloqueio. Mas se calhar eu é que não encaixo tanto disparate.

Agora, senhor Mexia, volte lá para Espanha a falar inglês. É super chique.

Eu não queria meter vídeos aqui, mas quando é bom, é bom.



De resto, quero acrescentar que acho maravilhoso que os políticos eleitos pelo povão - para bem e para o mal - digam que não governam com base em manifestações mediáticas e afins. É quase tão brilhante como o Relvas a cantar.

E, já agora, alguém diga ao senhor primeiro ministro que não lhe fica nada bem atirar para o ar piadolas em relação ao salário mínimo nacional. Sim, que o que ele hoje disse na assembleia só podia ser uma piadola.

Que fique claro: precisamos de reformas estruturantes? Precisamos. Mas não sacrificando as classes mais desfavorecidas como tem sido. Isso é injusto, indigno de uma democracia madura e, basicamente, estúpido.

4.3.13

As senhoras de lenço ao pescoço da Chanel são sempre de desconfiar

Veio a madame Caeiro falar do movimeto Que Se Lixe a Troika. Disse ela, lá do seu cantinho na Lapa, que este movimento não apresenta soluções e que só quer é a desgraça do país e tal. Também disse que a maioria das pessoas na manifestação do passado sábado não teriam lutado pela liberdade de que gozamos hoje em dia. E que ela jamais iria a uma manifestação destas. E no meio disto ainda referiu que, pronto, os pobrezinhos que moram fora do seu condomínio privado passam dificuldades.

E eu digo-lhe o seguinte, cara madame Caeiro: O movimento Que Se Lixe a Troika (com o qual tão-pouco me associo) é um movimento cívico de contestação. Espelha aquilo que o governo, do qual faz parte o seu partido, parece não ver: as pessoas comuns perdem qualidade de vida a cada dia que passa. Uma desempregada com um subsídio do governo de pouco mais de oito euros não é normal. Pode ser para si, que claramente desconhece a realidade, mas não é normal para o comum dos portugueses que, como eu, vai esticando o dinheiro para que chegue até ao final do mês.
Normalmente, eu diria que quem aponta um problema devia também apresentar soluções. Mas a este nível, digo, isto não se aplica. É para isso que servem os políticos: para olhar para a contestação em todos os sectores e tentar desenhar políticas que nos metam no caminho certo, mas que levem em conta as necessidades das pessoas. Afinal, a política é das e para as pessoas. Ou pelo menos devia ser.

Aproveito também para lhe dizer que não defendo subsídios para tudo e todos. Muito pelo contrário. Senão temos um universo de agarrados. Mas a senhora que referi acima, como tantas outras, quer é um emprego. Que a possa sustentar com alguma dignidade. E as políticas que estão a ser seguidas não permitem a ninguém ter esperança no dia de amanhã. Ainda que o nosso primeiro diga que no mundo pós-troika o mundo será de céu azul e cheio de arco íris e borboletas.

Depois também me pergunto se terá visto as imagens da manifestação do passado sábado? Ou será que lhe dá asco sequer olhar para elas? É que se fizer zoom vai ver que as pessoas que lá estavam eram, em grande parte, mais velhas. Mais velhas que os meus pais. E que terão vivido a ditadura e, à sua maneira, combatido tal monstro. É preciso ter-se cuidado com o que se diz a quem a sustenta, madame Caeiro. Cai no erro do ulrichiamento. E isso é feio.

Desafio-a a passar cá por casa. Vamos dar um passeio pela Linha de Sintra, pelos postos de trabalho que se perdem porque este governo está a sufocar a economia e, lá está, esta só funciona com o movimento de dinheiro. E note que não digo capitais, que não sou desses. E vamos a casa da tal senhora que recebeu oito euros do governo. Não se admire é que uma mulher com mais de quarenta anos viva com os pais. Mas vamos de comboio. Se houver.

23.2.13

A metafísica da preposição

É só para dizer que temos uma Presidência da República cujas grandes preocupações sobre país variam entre o "de" e o "da".

A cadela e o bilhete

Se ele devia ter comprado o bilhete para a cadela, devia. É obrigatório.

Se o pica devia ter resolvido a situação de outra maneira, devia. Resolver situações faz parte da job description, calculo.

Se a polícia devia ter desancado nos rapazes, não, não devia. É absolutamente ridículo tendo em conta o "crime" em questão. E a polícia devia e deve saber lidar com as situações na proporção devida. Mesmo que tenha havido desrespeito à autoridade (cuja posição tende muitas vezes a ser questionada nas mais pequenas coisas).

E, mais, hoje em dia a indignação estala em menos de nada. Basta termos um telemóvel e partilharmos o que vimos. Assim também a responsabilização das instituiçõese indivíduos aumenta.


19.2.13

Ninguém gosta do Relvas

Mas ele nem se parece importar com isso, que até canta com quem lhe grita.

A cena é que o senhor é carne para canhão. Ou se não é, parece.
E, sinceramente, não me inspira confiança. Aquela coisa das equivalências é um nadinha triste para não ser explicada como deve ser. Porque um político é julgado em praça pública, quer se queira quer não. E por isso precisa de provar que fez tudo nos conformes.

Ontem, o senhor foi confrontado com perguntas das bem boas no Clube dos Pensadores. Portou-se ele melhor do que o seu interlocutor, diga-se.

Já hoje, foi perseguido nos corredores do ISCTE. Exageros estalinistas à parte, a verdade é que todas estas manifestações brotam de um sentimento generalizado de roubo, de esforços exagerados e pouco repartidos.

Se o queixume é constante e sobre o mesmo, não deveria o governo ser um nadinha mais cuidadoso com quem o mantém?


To fatura or not to fatura, that is the question

Parece que, afinal o papão das Finanças não pode vir atrás de nós se não pedirmos uma fatura. E nem é preciso mandar ninguém ir “tomar no cú”, como disse o outro.
Dizem os entendidos que só em situação de fiscalização coordenada é que poderão pedir uma fatura ao inocente cliente que vai ali à esquina beber a sua bica. Por isso, vá, fiquem descansados que não irão parar aos calabouços da Judiciária e sentarem-se ao lado dos velhotes que roubam uma lata de atum e um papo-seco. Sim, que duvido que encontrem lá os tubarões.

Seja como for, e digo-o honestamente, não me espanta esta medida do governo. Já tem tomado tantas tão disparatadas que o pessoal estrabucha quando sai uma nova ideia de São Bento, mesmo que, no final de contas, não seja assim tão má. E seria ainda melhor se vivessemos num país com poder de compra para pagar todos os impostos que deve pagar. Sim, que muita gente prefere não pedir fatura se for arranjar as velas do carro porque fica muito mais barato. E parece que os senhores governantes não percebem isto. Eu, que nem sou economista, percebo que esta espiral de impostos atrás de impostos só vai agravar a situação. Mas, pronto, a mim ninguém me ouve.

E depois há outra: porquê que o governo não comunica como deve ser? Com tanto disparate que já saíu de lá, já podiam ter aprendido que o pessoal fica louco quando se dizem certas coisas e se dá azo a interpretações. É o papel do governo esperar reacções e comunicar as medidas com argumentos que visem conter essas reacções. Se não sabem isto, contratem um novo gabinete de comunicação que o que lá está não serve. Ou mandem o Portas falar com os portugueses. Assim como assim, ele já se está a preparar para dar a cara pelos quatro mil milhões. E quem conquista as feiras, conquista qalquer público.

Gotta love the Kims

Esta coisa da Coreia do Norte dá que pensar: os gajos fazem o seu povo passar fome, mas mandam foguetes para o ar e detonam bombas debaixo de terra. Mas, pronto, aquilo é uma ditadura esquizofrénica dos tempos da Guerra Fria e um gajo tem que dar um desconto.

Lembro-me que, qando o querido líder lá do burgo experimentou a primeira bomba, a China ficou de pé atrás. Afinal não é do seu interesse ter uns loucos a brincar à fusão nuclear à porta e desestabilizar toda aquela zona. Sobretudo a Coreia do Sul e o Japão, que, economicamente têm uma grande importância, além de terem como aliado o Obama. E o resto do mundo, a bem dizer.
De um ponto de vista prático, a Coreia do Norte não é de todo importante para a China. Afinal, vale pouquíssimo na sua balança comercial e o apoio ao regime dos Kims só se mantém por razões ideológicas. A atirar para a caridadezinha a Jonet. E sem bifes.
Quer-me cá parecer que isto vai chegar a um ponto em que os senhores de Pequim batem o pé e aquilo dá para o torto. Além de que a China, e com os novos líderes, tem preocupações diferentes de outrora: combate à corrupção, expansionismo diplomático, conciliação da modernidade com a censura do regime, por exemplo.

E há mais um pormenor: até aqui a Coreia do Norte ia fazendo uma diplomacia de chantagem, de amuo, do género "vá, quero comida senão parto esta merda toda". E parece-me que se começam a distanciar disto. O que torna tudo mais grave, mais difícil de prever e muito mais arriscado.

E nem trago à baila a desgraça humanitária que para ali vai desde que o paralelo 38 e aquela zona desmilitarizada - sítio bonito de se ver, diga-se - caíram naquela península.

Nesta novela não faço apostas quanto ao final. Até porque um governo (ainda mais) à direita no Japão, uma nova presidente no Sul que precisará de se impôr e as manias americanas do costume são factores a considerar. 

E ainda diziam uns, há um par de anos, que aquilo era o paraíso dos trabalhadores... Yeah, right.

9.2.13

Os invertidos, as libertinas, os infiéis e os infertéis: os grandes problemas lusos

Li por aí que uns senhores que não têm mais nada com que se preocupar do que com apliques de silício, que os problemas da contemporaneidade lusa se devem sobretudo ao casamento gay, à liberalização do aborto, à nova lei do divórcio e à reprodução artificial.

Pois eu discordo. E vejamos porquê:
O casamento gay não trouxe ao mundo um Relvas, por exemplo;
A liberalização do aborto não impediu que os sacripantas do BPN andassem por aí a mamar à grande e à francesa;
A nova lei do divórcio não virá impedir que os senhores da CP e do Metro façam as suas greves que, de tão comuns, já se tornaram ineficazes e só atingem o povão. Os ministros andam de viatura do Estado;
A reprodução artificial não vem substituir Deus. Aliás, se a reprodução artificial existe é porque os deuses o permitem. Senão era já um terramoto!

Resumindo e concluindo: fossem os nossos problemas estas quatro coisinhas e estariamos nós muito bem.

Preocupem-se é com o bem de todos, não com o que as pessoas fazem na sua vida pessoal! Até porque a noção de família mudou um nadinha desde a Idade Média...

Eu, se fosse um deus, eram os tais senhores já de orelhas de burro ao canto da sala de castigo a olharem para a parede.

4.2.13

Andar a pé é bom e barato. Que o diga a Glória.

A deputada Glória Araújo foi apanhada com os copos atrás de um volante aqui há uns tempos. E depois seguiu-se aquela confusão do está ausente da Assembleia, não está ausente da Assembleia, tem imunidade, não tem imunidade...

Pois a mim isso pouco me importa. A senhora foi apanhada com a taxa de alcoolemia acima de média. Acho muito bem que lhe seja levantada a imunidade parlamentar e responda pelo que fez e  ande a pé, que só faz é bem e o tempo começa a melhorar.

Eu não preciso que os deputados eleitos à Assembleia da República sejam poços de virtudes. Para isso, virava-me para a Igreja (cof, cof). Este é um erro que a senhora cometeu, há que responder por ele e seguir em frente.

A escolha estúpida que esta senhora fez foi errada mas difere na sua natureza das suspeições sobre, por exemplo, Franquelim Alves ou Miguel Relvas. Porque uma coisa, na minha singela opinião, é ser apanhado com os copos na sua esfera pessoal, outra coisa é sequer haver suspeições de coisas graves que minam a credibilidade de um governante, seja em que patamar do tacho, perdão, pirâmide estiver.

Atenção que não estou a acusar ninguém de nada. Quem sou eu! Estou só a dizer que, em política, as aparências contam. E contam muito.

Django

Ontem fui ver o Django Unchained. E é pura e simplesmente brilhante.

Sou um admirador de Tarantino, aquele louco que consegue tocar o mainstream, mas sem dele fazer parte. 
Aliás, o meu filme favorito de todo o sempre é seu: Kill Bill 1, essa montra de sangue e lutas kitsch.

Podem dizer que este filme é só sangue e niggas por tudo quanto é lado. Mas essa é a mestria do filme e do seu realizador: usar os espichos de sangue em forma de arte. Como um acrescento à beleza do filme e não como um mero derrame de coisas vermelhas. E os niggas têm que lá estar. Porque é uma realidade que foi vivida e que não pode ser escamoteada, apesar de dolorosa para a consciência colectiva ainda viva dos Estados Unidos.

Há imagens brilhantes, tais como a abertura ao estilo Western dos idos anos 60. Ou aquela em que o líder do bando dos sacos é alvejado sem se ver ainda montado no cavalo. No cavalo que não pára e fica coberto de sangue. O próprio Tarantino a ir pelos ares é um comic relief genial. Uma piada sobre si próprio que poucos conseguiriam fazer.
O humor que atravessa o filme todo, com picos aqui e ali, é brilhante. Cáustico. A fazer troça das realidades.

Jamie Foxx está perfeito. A suas mudanças de estilo ao longo do filme são exímias.
Mas, para mim, o melhor, é sem dúvida Christoph Waltz, esse mestre dos pormenores, das caras, da dicção, dos gestos. 

Acho que chega para dizer que achei o filme extraordinário. É tão bom, tão bom que estou capaz de o ir ver outra vez ao cinema.

Agora deixem-me lá regressar à banda sonora no Youtube...

3.2.13

Problemas de afirmação têm-nos os adolescentes

É importante em democracia haver uma oposição forte, coesa e que apresente alternativas. Sobretudo em situações em que o neo-liberalismo impera e as bases do país são abandonadas em favor de BPNs e afins.

O problema em Portugal neste momento é que uma oposição forte, coesa e que apresente alternativas não existe. Sejamos sérios: o PCP vive num mundo que não existe e o BE, qual Cérbero dos tempos modernos, anda por aí aos caídos. E depois temos o PS. Com o Seguro que de seguro pouco tem.

As coisas são como são, e a alternativa aos senhores que estão no poder só poderá ser o PS. Mas para isso, tem que se encontrar. A vários níveis. Tem que ter um discurso constante sobre o que pensa, com um líder que reúna consensos e que transpire carisma. Tem que ter as bases reunidas para que se possa impôr como uma alternativa. E tem que deitar para fora do Rato todas as alternativas que tem para oferecer a estas políticas de abandono das massas.

Basicamente, a estratégia do Costa é não fragilizar o PS em demasia. Porque isso custaria mais ao país do que a bolinha baixa do Seguro, mas esse mesmo Costa não deixará de agarrar a oportunidade se o Seguro der para o torto.

A questão é: não seria melhor ele dar para o torto de uma vez por todas?

E mais uma coisa: o socratismo já lá vai. Foi chão que já deu uvas. E não vale a pena culpabilizar o refugiado parisiense pela situação nefanda do país. Essa situação é bem mais profunda e antiga... Mas o Socas não ajudou muito...

2.2.13

Ulrichiar, v. intr.: dizer disparates de barriga cheia; não ter noção do digno

Anda por aí um banqueiro da nossa praça a dizer disparates. Claro que o facto de ser banqueiro e de o seu banco ter tido lucros de centenas de milhões num período de crise agudíssima para muita gente não lhe tira qualquer direito em andar por aí a palrar disparates.

Já quando foi a história da Tia Pepa (alguém me esclareça se se lê "Pêpa" se "Pépa" se "I don't give a fuck"), o pessoal se incomodou. E eu também me senti incomodado. Mas como essa personagem veio dizer disparates à praça pública há mais de uma semana, já a gente se esqueceu dela. Entretanto, vem o Herr Ulrich reiterar que Portugal aguenta mais austeridade, que se os gregos aguentam a gente tambem aguenta e que se há por aí gente sem abrigo, qualquer um de nós o poderia também ser. Porque se eles aguentam, qualquer um de nós aguentaria (os seus comparsas partidários devem dar-lhe um euro por cada vez que conjuga o verbo aguentar).

Acho o argumento maravilhoso. Porque eu diria que o Herr Ulrich aguenta limpar o rabiosque a notas de quinhentos euros, eu acho que também aguentaria. Ou talvez não, porque sei dar o valor ao dinheiro.

Mas esta questão não tem somente a ver com as posses das pessoas. Não me quero prender somente à cor roxa das mais belas notas de euro... Isto tem a ver com a dignidade humana que passa, não só por ter um prato de sopa para comer, mas passa também por ter um tecto, poder dormir abrigado, poder ter acesso ao mínimo conforto.

Eu até estaria disposto a passar uma noite na rua com o Herr Ulrich. A sério que passava. Até o deixava escolher um vão de escada onde pudéssemos dormir sob uns cartões que iriamos ter que ir buscar às traseiras de um qualquer supermercado (embora eu preferisse uma mercearia).

O Herr Ulrich, tal como a Tia Pepa, tem direito a dizer o que lhe aprouver. Mas não pode esquecer que o seu lucro vem do bolso de todos nós. Directamente ou indirectamente. Mais, o Herr Ulrich, como qualquer personagem deste nosso cantinho, tem que ser comedido no que diz quando em situação confortável e face ao que se passa por esse país fora onde as pessoas começam a cortar nos básicos. Haja respeito!

Herr Ulrich, se me está a ler, fico à espera que escolha o vão de escada. Só lhe peço que esperemos por uma noite de muita chuva e não vale ser o seu vão de escada debruado a ouro e mármore de Carrara.

PS - Com especial agradecimento a F Serrano pela inspiração no título

Disclaimer

Andei afastado destas coisas virtuais, que a minha vida tem pouco para ser partilhado.
Mas agora apetece-me regressar. Com um novo intuito: o de opinar. Porque é como digo... Eu adoro uma valente sessão de opinanço.

Hoje toda a gente tem opiniões, toda a gente sabe de tudo, toda a gente pode ir à televisão opinar. Mas eu sou um pouco mais modesto e só quero opinar sobre o que me der na real gana e nem faço questão de ir à televisão ser interrompido pela Avillez nem tão pouco quero ir fazer sombra ao Professor Marcelo.

No fundo, virei aqui deixar uns gritos sobre o que me incomoda. Poderão essas preocupações parecer mais ou menos importantes, mas aqui, o que ficará, é, lá está, a minha opinião.
Comentários serão naturalmente benvindos, desde que venham por bem.