18.1.15

Posso?

Será que posso dizer que me parece que o Papa está errado? Ou estou a ofender alguém?

Dizer a alguém que não se concorda com a sua opinião, não é ofender ninguém. Pelo menos, não devia ser...

Eu até compreendo as palavras do senhor tendo em conta a diplomacia que têm que compreender, mas não posso concordar com o facto de que, primeiro, fazer desenhos do profeta seja ofender a religião de alguém e, segundo, que tenho que me acobardar num estado de direito. 

Se queremos viver todos em harmonia, temos que viver com as opiniões alheias, com os actos alheios, com os pensamentos alheios. E não pura e simplesmente usar a violência para deles discordar.

Parece-me ser tão simples quanto isto.

Agora, se é um exercício fácil? Claremente parece-me que não.

(Uma última nota para dizer que espero que o exemplo que deu sobre o que faria a alguém se falasse mal de sua mãe, seja uma mera metáfora. Senão lá se vai o evangelho do amor por água abaixo.)

8.1.15

Charlie

O que aconteceu é estúpido.
É tão básico como isso.
Claro que há certas noções básicas que não cabem na cabeça de algumas pessoas. Não é a primeira vez e nem será a última. Tanto mais que Charlie já havia sido alvo de ataques. Mas querer silenciar uma forma de estar de todo um quadrante do mundo pela força do terror não é a forma certa. E o que aconteceu só vai exarcebar alguns sentimentos menos bons. O que eu digo a estes degenerados* é simples: se não gostam de estar aqui, que se mudem para as montanhas do Afeganistão e vivam nas cavernas. Isolados e sem oportunidade de se sentirem ofendidos.
O que me parece por demais aborrecido.
Dado que a Europa se tem vindo a extremar mais e mais – com ataques a mesquitas em Stockholm ou manifestações contra a ismalização da Europa na Alemanha – o que aqui aconteceu só vai contribuir para as teorias loucas da extrema-direita. Porque há loucos em todo o lado. E eu ainda vou querer ver no que é que isso vai dar. Porque se é verdade que os políticos do costume se apressam a vir dissipar medos e a esclarecer as coisas, também terão que aplacar os extremistas dentro da Europa na hora das eleições.
O que os degenerados que mataram o agente Ahmed – que lhes terá perguntado se o iam mesmo matar – também provocaram foi uma onda de solidariedade que é raramente vista. Houve gente nas ruas em Paris e noutras cidades. E a força das massas é difícil de ser parada, sobretudo quando se vive em democracia.
Daqui a uma ano lembrar-nos-emos desta desgraça e lembraremos os heróis da liberdade de expressão que morreram nas mãos de uns tontos. E Charlie continuará a satirizar o que bem lhe aprouver. E com a força de um mártir.

* Quero deixar aqui bem claro que os degenerados são os tontos que pegam em armas em nome do profeta (ou por outra qualquer razão, diga-se) e não todas as boas pessoas que professam a mesma religião)