6.8.13

Obviamente demita-o

Era o que diria eu à senhora ministra das Finanças se me cruzasse com ela no autocarro às sete da manhã e se calhasse em conversa o secretário de estado do tesouro.

Porque se é vergonhoso tentar esconder a dívida pública com contas loucas, não é menos vergonhoso vir a público mentir. Claramente mentir sobre o que se sabe e se pretendia ter esquecido.

Vergonhoso é claramente um eufemismo.

4.8.13

Valha-nos a Espírito Santo

É graças a ela que a silly season se tornou ainda mais silly do que o costume. E por isso lhe agradeço.

Foi uma piadola de muito mau gosto, sobretudo numa altura em que todos - ou melhor - quem trabalha passa, em geral, por um mau bocado. Tirando todos os outros que nem emprego têm neste momento. E que são muitos. Talvez a menina Espírito Santo pudesse, antes, brincar à caridadezinha. Dava mais jeito.

Dito isto, e como disse esse arauto da cultura lusa, o Tony Carreira, o sucesso cria inveja (ou coisa parecida) e é bem verdade. Então não gostaríamos todos de estar na Comporta à beira da piscina a brincar aos probrezinhos? Não gostaríamos todos não ter que pôr o despertador para as seis da manhã e termos o pequeno almoço feito pela empregada à espera? Não gostaríamos todos de não nos termos que preocupar com o dinheiro até ao final do mês?
Pois, eu adoraria e sonho por esse dia.

Mas uma coisa é certa: no dia em que pertencer ao filão dos Espírito Santos - e outros - não vou andar a dizer disparates a revistas, jornais e folhetins em geral. Porque ainda saberei medir o que digo e ver a realidade verdadeira à minha volta.

Entretanto, ela retratou-se. E lá anda na Comporta. Quero ver dia 10 de Agosto. Só por curiosidade.

2.8.13

A novela

Tenho andado a pensar nesta novela que foi a demissão irrevogável do Portas e no apoio incondicional à estabilidade de sua excelência, o presidente da república.
Quando a coisa saiu cá para fora, fiquei estupefacto. Pensei que era o Portas a fazer uma fita das suas. Mas das grandes e muito, muito feias. Mas fui esperando para ver.
Hoje acho que o golpe absolutamente palaciano que deu – e isto não é uma piadola fácil ao facto de agora trabalhar num T0 no Palácio das Laranjeiras – foi genial.
É a única coisa que me ocorre dizer. Porque segurou de forma muito mais forte o poder que tinha dentro do governo. Digamos que o agarrou pelos tomates e apertou-os.
Eu jamais seria capaz de dizer que o agora número dois do governo não tem princípios nenhuns, que é um oportunista político e que se manteve no governo depois de se demitir irrevogavelmente mesmo com a manutenção da senhora ministra das Finanças. Jamais!
E a cereja no topo do bolo vem em forma da sua actual posição de número dois quando o seu partido não espelha de forma alguma uma segunda posição nos votos. Não fora a coligação e o Paulinho das feiras estaria a virar frangos na assembleia da república.
Ora, se esta novela me deixou abismado, mais ainda me deixou boquiaberto – ao ponto de ter desencaixado o maxilar – a posição tomada pelo mais elevado magistrado da nossa nação, o Cavaco.
Ou eu sou muito parvo ou o senhor anda muito trocado e não sabe o que quer dizer ser pela continuidade, ser da paz e do bem. Eu acho que sou muito parvo, só pode.
Quando ele falou ao país dizendo que queria uma concertação entre os partidos do arco da governação, caiu-me tudo ao chão. Acho que mais pela surpresa de suas palavras – as últimas que me haviam surpreendido foram aquando da sua explicação da aceitação da lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo – do que propriamente pelas consequências das suas palavras.
Vai daí, foi a vergonha que se seguiu. Uns fazem birra, outros fazem birra. Ninguém se entende, mas parece que há um pontinho pequenino onde, afinal, há entendimento.
Quero com isto dizer que acho esta novela e, sobretudo, o seu desfecho absolutamente vergonhoso. Não pelo Portas, não pelo Cavaco – e acho que até lhes tenho que agradecer! – mas sim pela absoluta falta de carácter, de sentido de Estado e de sentido de “vamos levar isto para a frente” dos nossos partidos do arco de governação (que os outros dizem coisas ainda mais fantásticas).
É triste que, aos 34 anos, me aperceba que vivo num país de políticos que só fazem política. Ou seja, usam a oratória, regorgitam ideias, batalham uns com os outros mas, no fundo, não chegam a lado nenhum.
Quando me diziam no Japão que lá se governa por consensos – com todas as outras falhas que aquele sistema tem – ou que na Escandinávia se fazem acordos interpartidários para as grandes áreas de governação, eu achava que não podia ser e que não fazia sentido. Mas talvez fosse novo e achasse que guerilha política é que era. Hoje, porém, vejo que o objectivo último da política devia ser esse: alcançar consensos, sim. Sem haver obrigação institucional para isso, mas uma pressão ética e moral para tal.
Era bom que os líderes dos nossos partidos se concentrassem nisso, para que as políticas de crescimento de que tanto precisamos possam ser continuadas e para que o país real – que claramente não é o do Palácio das Laranjeiras – possa saír do buraco.
Portugal não é pior do que qualquer outro país no mundo. Só merece é gente à altura de o governar.

Mas não me posso ir embora sem falar de uma outra novela: a dos swaps.
Eu sou da opinião que, em política, as aparências contam. Como diria a menina que foi corrida do senado texano por dizer o que pensava “vocês são o meu governo e, sim, posso julgar-vos”. Se há gente com o nome ligado, ainda que remotamente, a esta polémica que tanto dinheiro nos custa, acho que se deviam chegar à frente e esclarecer as coisas. Para o bem ou para o mal, a ministra das Finanças já o fez. Mas o governo perseguir gestores envolvidos nisto e depois nomear outras pessoas potencialmente ligadas a esta cena para gerir o drama desta mesma cena é que não está com nada.
Esta falta de coerência do governo – que tantas vezes se faz notar – cai mal no povão. Mas, como se vê, o povão é o que menos importa a certa gente.
E, mais, a oposição pedir demissão depois de demissão também não traz nada de novo à novela. A oposição devia era documentar-se, provar, apurar e depois dar o golpe de misericórdia.
Porque uma coisa são as aparências para quem vota e o que se tira daí, outra coisa são acusações políticas.