28.10.14

Às vezes penso se sou eu...

Há coisas que me fazem muita confusão. E uma delas é a forma como alguns decisores políticos pensam em abstracto e completamente afastados da realidade do povão. E nem me refiro ao tratamento ligeiro que é dado a assuntos como o abono de família, o salário mínimo ou as pensões mais baixas. Dizem quinhentos euros como quem diz quinhentos mil milhões de euros.

Refiro-me, isso sim, a três coisas que têm sido faladas nos últimos tempos:
1. Fiscalidade verde. 
Que me faz rir a bandeiras despregadas. Porque, caros senhores, fiscalidade verde não é somente aumentar o preço dos sacos de plástico, taxando-os. Isso é um lado do problema. 
A verdadeira fiscalidade verde seria aumentar o preço dos sacos, mas melhorar os transportes públicos; aumentar o preço da gasolina para veículos particulares, mas criar vias mais rápidas para quem viaja em grupo. Ou simplificar o sistema de tributação dos painéis solares em condomínios.
São meros exemplos que dou, mas percebe-se o princípio: não é meramente taxar à maluca para arrecadar mais dinheiro, mas ter uma estratégia para mudar de paradigma.
2. IRS. 
Eu gostava, pois que gostava, de viver num país onde soubesse com o que contar, entendesse o que fazer de ano para ano. Mas vivo em Portugal, um país de cabecitas pensadoras (pode dizer-se "cabecitas"?).
Acho absolutamente maravilhoso que a nova bolsa de despesas contemple o astronómico valor de seiscentos euros - por casal! - em despesa. É uma festa. Por mês, gasto eu quase isso em despesas correntes.
Mas o que eu acho gravoso é essas cabecitas pensadoras discorrerem sobre o impacto que o IRS tem nas famílias e as grandes vantagens que podem ter se isto ou se aquilo (quando, em geral, se tratam de décimas pontuais). E eu penso: o people quer é guito ao final do mês. Aquele guito que alimenta a economia corrente, do dia-a-dia.
Estimular esta dependência de momentos no ano em que o people recebe um dinheirinho é ridículo e só estimula a subsídio-dependência do costume.
A meu ver, o IRS devia acertar contas. Pequenas. E somente isso.
3. Polícias a mais. 
E quanto a isto eu só digo: onde é que eles estão. 
Porque, diz-me a experiência, que uma coisa são os números, outra é a realidade. Ou a percepção das pessoas. Que se torna, claro, a realidade.
Podem até haver polícias a mais em Portugal - como diz a OCDE - mas então a sua gestão é muito deficiente. Porque não os vejo na rua, porque não os vejo a multar os prevaricadores, porque não os oiço confortáveis com os seus números nas esquadras.
Às vezes penso se sou eu que sou muito picuínhas e chato e tudo ou se não sou eu...

4.10.14

Ai Jesus Cristo, anda cá abaixo ver o Crato!

Eu já tenho falado dessa corporação poderosa que é a dos professores e de como uma mínima mudança levanta logo o pó do comodisto e da adoração pelo establishment.

Mas desta vez a coisa é mesmo muito má. E o senhor ministro Crato tem que se demitir imediatamente. Porque perdeu toda a credibilidade e, mais importantemente, toda a seriedade que a que o seu posto o obriga.

Uma coisa é implementar provas de aferição de conhecimento (ainda que num formato muito dúbio) ou haver pequenos atrasos no preenchimento de posições residuais, outra coisa é deixar os miúdos sem aulas ou virar do avesso as vidas de milhares de pessoas que, por acaso, leccionam e vir pedir desculpa por isso.

O que se tem passado tem sido das piores novelas de que me lembro e, se é bem verdade que todos os anos há alguns episódios estranhos, este ano a coisa bateu no fundo. E que há que perceber porquê. Que não me parece que fosse só porque alguém num gabinete esconso numa cave sem janelas não sabe fazer contas...

Eu até nem preconizo a caça à cabeça de um ministro assim que ocorrem erros - porque um ministro é a cabeça de uma grande engrenagem e que há perceber bem onde ficou o grãozinho que lixa tudo - mas quando a coisa assume proporções devastadoras e o ministro vem pedir desculpas ao Parlamento e 'tá-se bem - sem levar em conta aqueles que, afinal, ficam sem trabalho ou as criancinhas que ficam sem o professor que acabaram de conhecer - é empalá-lo às portas da cidade... Ou, vá, levá-lo a tribunal já!

O povo diz, e com muita razão, que as desculpas não se pedem, evitam-se.