22.11.14

E por falar em filmes, a Justiça Portuguesa Produções apresenta "Sócrates"

Antes demais, Sócrates foi detido. Não foi preso.
Neste momento continua a ser ouvido e há buscas a decorrerem para se recolher informação.

A mim não me choca a sua detenção, mas choca-me a surpresa e o alarido que há em volta da sua detenção. Como se um ex-primeiro ministro não pudesse ser alvo de suspeitas. 

Eu não acredito muito em teorias de conspiração e jamais quero acreditar que o timing desta detenção pudesse ter sido manipulado por motivos políticos. Mas a verdade é que deter Sócrates neste momento - com um congresso do PS à porta e a sua consequente reafirmação - vai ser um problema. Até porque Sócrates nunca foi encarado como um monstro dentro do partido.

Também se diz que agora as atenções se desviam de outros casos: BES, subvenções e mais uma catrefada deles que nem me lembro.
Ora, se é bem verdade que Sócrates será objecto de extensas reportagens e longuíssimos debates na comunicação social, também é verdade que a justiça não se permitirá distracções e continuará a investigar o que tem que ser investigado.
Eu pelo menos assim o espero.

Por últimos duas coisas:
Se os políticos dos partidos moderados são todos os mesmos, então não votem neles. Em vez de se queixarem, escolham outros. 
Menos o Marinho Pinto, por favor, que esse já provou não ser de confiança;
Isto não se trata de uma limpeza ao sistema. Longe disso! É uma investigação sobre um ilustre político e uns quantos à sua volta. Que eu só acredito que haja uma limpeza ao sistema quando lá vir mais uns quantos... 
Nem que os persigam de submarino.

Este filme vai continuar e dar que falar. 

E se houver provas sólidas e irrefutáveis, pois que se o prenda!

Interstellar

Um belíssimo filme.

Em tudo: na história, na ficção, na verosimilhança, no realismo, nos planos, nos efeitos, nas imagens, nas palavras, na representação.

Se não o viram, vejam-no. 

É tão bom, tão bom, que estou capaz de o ir ver outra vez ao cinema.

Eu dou-te a subvenção!

Eu acredito na dignidade e na responsabilidade da posição de deputado à Assembleia da República. É também por isso que defendo uma relação muito mais directa entre o eleito e os eleitores, coisa que o sistema que usamos não facilita. Por isso também não me espanta que os deputados tenham certos direitos que o comum dos trabalhadores não tem.

Mas a Isabel quer agora recorrer ao Tribunal Constitucional de forma a que este aprecie a inconstitucionalidade da continuidade da supressão das subvenções vitalícias dos senhores deputados. E quer-me parecer que ela se está a esquecer de uma coisa que devia ser muito importante na política: a moral.

Se ela até pode ter razão, tendo em conta uma lógica meramente legal, não a tem a nível moral. Nem ninguém que defenda que se prolonguem cortes ao comum dos trabalhadores - ou dos que já o foram - e se volte atrás nos cortes de quem mais tem. Não é bonito, não é justo, não é aquilo que a política deve ser.

Aliás, até me faz muita espécie como é que os deputados têm o poder de decidir as suas próprias regalias. Imagine-se se todos o pudessemos fazer onde trabalhamos! Era giro.

Achei interessante que alguém - aparentemente nas cúpulas - ganhasse juízo e não avançasse com esta proposta. Porque seria muito desprestigiante para uma classe política que já muito pouco prestígio tem junto dos demais. E se os dois maiores partidos do sistema podem falar e concordar nisto, bem que o podem fazer em relação a outras coisas igualmente relevantes para o país.
E eu deixo já uma dica: estratégia.

Como quem não quer a coisa.

16.11.14

Maldita caridadezinha

Parece que para o ano Portugal estará melhor. E se formos muito bem comportadinhos e o mundo for um sítio lindo, até nos baixam os impostos e estaremos ricos de um ano para o outro. É o que está orçamentado.

Curiosamente, 2015 é ano de eleições.

A tristeza de quem manda e vai mandando neste país é pensar que o salário mínimo é digno e chega. E que podemos ir às urgências pagar vinte euros.

Ah, mas esperem lá: o governo aumentou o número de pessoas isentas de pagamento de taxas.
Mas eu pergunto: o raciocínio não deveria ser ao contrário? Não deveria o objectivo ser ter mais gente a pagar (presumindo que o acesso universal a algo tão básico como a Saúde deva ser pago)?

Acho esta subversão de valores lamentável. E não é por uma questão filosófica ou meramente ideológica. É por uma questão basilar da política: servir os cidadãos.


15.11.14

Ainda dos doutores portugueses aos olhos da Angela

Se há demasiados licenciados em Portugal, eu não sei. Mas ficou tudo em polvorosa com algumas palavras ditas pela manda-chuva alemã - até porque a comunicação social cá do burgo escolheu bem o que partilhar.
Mas a verdade, é que a senhora até pode ter razão no que toca à falta de gente qualificada tecnicamente sem necessariamente com um diploma de uma universidade.
O que me parece ser mais relevante seria o people preocupar-se com a qualidade do ensino técnico - que não é só para quem não é bom o suficiente para a universidade - do ensino universitário - vejo coisas muito tristes - a facilidade de acesso a ambos os ensinos dependendo da vontade do estudante - hoje em dia fortemenre condicionado - a preocupação que a populaça ainda tem com títulos - get over it - a relação das escolas técninas, politécnicos e universidades com o mundo real e empresarial - muito diminuta nos dias que correm - e a percepção de que um canudo traz mais realização e mais dinheiro - o futuro provará que isso não é bem assim.
O que as palavras da dita manda-chuva deviam ter despertado deveria ter sido a consciência colectiva em torno da educação no seu todo. E nomeadamente a consciência dos governantes e dos possíveis governantes para uma estratégia integrada e de longo prazo para a Educação. Que claramente não existe.

28.10.14

Às vezes penso se sou eu...

Há coisas que me fazem muita confusão. E uma delas é a forma como alguns decisores políticos pensam em abstracto e completamente afastados da realidade do povão. E nem me refiro ao tratamento ligeiro que é dado a assuntos como o abono de família, o salário mínimo ou as pensões mais baixas. Dizem quinhentos euros como quem diz quinhentos mil milhões de euros.

Refiro-me, isso sim, a três coisas que têm sido faladas nos últimos tempos:
1. Fiscalidade verde. 
Que me faz rir a bandeiras despregadas. Porque, caros senhores, fiscalidade verde não é somente aumentar o preço dos sacos de plástico, taxando-os. Isso é um lado do problema. 
A verdadeira fiscalidade verde seria aumentar o preço dos sacos, mas melhorar os transportes públicos; aumentar o preço da gasolina para veículos particulares, mas criar vias mais rápidas para quem viaja em grupo. Ou simplificar o sistema de tributação dos painéis solares em condomínios.
São meros exemplos que dou, mas percebe-se o princípio: não é meramente taxar à maluca para arrecadar mais dinheiro, mas ter uma estratégia para mudar de paradigma.
2. IRS. 
Eu gostava, pois que gostava, de viver num país onde soubesse com o que contar, entendesse o que fazer de ano para ano. Mas vivo em Portugal, um país de cabecitas pensadoras (pode dizer-se "cabecitas"?).
Acho absolutamente maravilhoso que a nova bolsa de despesas contemple o astronómico valor de seiscentos euros - por casal! - em despesa. É uma festa. Por mês, gasto eu quase isso em despesas correntes.
Mas o que eu acho gravoso é essas cabecitas pensadoras discorrerem sobre o impacto que o IRS tem nas famílias e as grandes vantagens que podem ter se isto ou se aquilo (quando, em geral, se tratam de décimas pontuais). E eu penso: o people quer é guito ao final do mês. Aquele guito que alimenta a economia corrente, do dia-a-dia.
Estimular esta dependência de momentos no ano em que o people recebe um dinheirinho é ridículo e só estimula a subsídio-dependência do costume.
A meu ver, o IRS devia acertar contas. Pequenas. E somente isso.
3. Polícias a mais. 
E quanto a isto eu só digo: onde é que eles estão. 
Porque, diz-me a experiência, que uma coisa são os números, outra é a realidade. Ou a percepção das pessoas. Que se torna, claro, a realidade.
Podem até haver polícias a mais em Portugal - como diz a OCDE - mas então a sua gestão é muito deficiente. Porque não os vejo na rua, porque não os vejo a multar os prevaricadores, porque não os oiço confortáveis com os seus números nas esquadras.
Às vezes penso se sou eu que sou muito picuínhas e chato e tudo ou se não sou eu...

4.10.14

Ai Jesus Cristo, anda cá abaixo ver o Crato!

Eu já tenho falado dessa corporação poderosa que é a dos professores e de como uma mínima mudança levanta logo o pó do comodisto e da adoração pelo establishment.

Mas desta vez a coisa é mesmo muito má. E o senhor ministro Crato tem que se demitir imediatamente. Porque perdeu toda a credibilidade e, mais importantemente, toda a seriedade que a que o seu posto o obriga.

Uma coisa é implementar provas de aferição de conhecimento (ainda que num formato muito dúbio) ou haver pequenos atrasos no preenchimento de posições residuais, outra coisa é deixar os miúdos sem aulas ou virar do avesso as vidas de milhares de pessoas que, por acaso, leccionam e vir pedir desculpa por isso.

O que se tem passado tem sido das piores novelas de que me lembro e, se é bem verdade que todos os anos há alguns episódios estranhos, este ano a coisa bateu no fundo. E que há que perceber porquê. Que não me parece que fosse só porque alguém num gabinete esconso numa cave sem janelas não sabe fazer contas...

Eu até nem preconizo a caça à cabeça de um ministro assim que ocorrem erros - porque um ministro é a cabeça de uma grande engrenagem e que há perceber bem onde ficou o grãozinho que lixa tudo - mas quando a coisa assume proporções devastadoras e o ministro vem pedir desculpas ao Parlamento e 'tá-se bem - sem levar em conta aqueles que, afinal, ficam sem trabalho ou as criancinhas que ficam sem o professor que acabaram de conhecer - é empalá-lo às portas da cidade... Ou, vá, levá-lo a tribunal já!

O povo diz, e com muita razão, que as desculpas não se pedem, evitam-se.

16.8.14

Take Another Plane. Ou TAP.

Oiço a piadola de TAP querer dizer take another plane já há bastante tempo. E, diga-se, com os infortúnios que a assolaram recentemente, se calhar nem era má ideia. Mas será assim tão mau?

Há uma tendência fatalista em Portugal de dizer mal de tudo o que é nosso. Já o sabemos. E ainda bem, senão não haveria fado nem as velhinhas a queixarem-se por tudo e por nada. 
Mas, meus caros, atrasos há-os em qualquer sítio do mundo. Posso dar-vos exemplos pessoais da Air France, do ICE na Alemanha, dos autocarros no Japão. O importante é ter estratégias para lidar com situações dessas. 

Há também a natural insatisfação de quem fica pendurado num aeroporto. É normal. Porque um avião não tem a frequência de um autocarro. Ou de um comboio. Por isso é também importante ter estratégias para lidar com as pessoas que ficam penduradas nos aeroportos.

E quanto a isto, parece-me que a TAP tem vindo a desenvolver esforços para minimizar os atrasos. E apresenta números que apontam nesse sentido. Se bem que a minha impressão meramente empírica é que ainda acontecem muitos atrasos... Mas também vos digo que a EasyJet já me largou em Gatwick às 4 da manhã e não às nove da noite.
E também é verdade que a TAP, assim que se apercebeu do impacto da falta de vaiões tratou de avisar toda a gente o quanto antes. E isso não pode ser negado.

Mas estas coisas mancham a reputação de uma empresa. Que, a meus olhos, tinha vindo a melhorar em termos de serviço e em termos das ofertas que faz. E a verdade é que tem vindo a aumentar a ocupação dos seus aviões e os destinos que oferece.

Quem não parece perceber bem o impacto do diz-que-disse é o senhor presidente da empresa. Que fica triste por as pessoas não se lembrarem das coisas boas em momentos em que caem pedaços de aviões e se cancelam viagens, como li numa sua entrevista.
Pois, meu caro Fernando Pinto, como se diz em inglês no news is good news e como se diz tragicamente em português, as más notícias correm depressa. É só o que lhe tenho a dizer.

Por fim, e depois de ter lido umas coisas interessantes a respeito da estratégia adoptada pela TAP, tenho a dizer que acho muito bem que se queiram expandir e disputar mercados. E certos nichos.
Voar para a Ásia é dinheiro certo nos dias que correm, mas não me surpreende nada a estratégia passar, para já, pelo reforço da presença na América Latina (mais ninguém voa para Porto Alegre ou Belém, por exemplo, e poucas empresas voam para Fortaleza ou Brasília) ou pela continuação do trabalho em África (ninguém voa tanto para Luanda ou para Cabo Verde e ninguém voa para Maputo).

E está bem claro que foi aprendida uma lição importante. Tanto que a expansão da rede continuará, mas haverá um avião de reserva no hangar para o verão que vem. É que esta brincadeira custou milhões à TAP. Entre a reputação, os alugueres de outros aviões e tudo mais.

24.7.14

Sagrados sábados

Esta coisa da senhora procuradora que professa o adventismo do sétimo dia e que não pode trabalhar aos sábados faz-me muita confusão.

É bem verdade que as pessoas devem ter toda a liberdade religiosa do mundo – que isto não é o Sudão – mas discordo completamente da decisão do Constitucional. Parece-me que assim há uma total subversão do que devia acontecer. Assim, o culto religioso – que é uma opção pessoal – sobrepõe-se às obrigações de um funcionário enquanto tal. Faz-me muita confusão.

Quando os senhores juízes dizem “O Estado não assegura a liberdade de religião se, apesar de reconhecer aos cidadãos o direito de terem uma religião, os puser em condições que os impeçam de a praticar” parecem-me exagerar nos direitos que alguém tem só porque professa uma religião. Se alguém não quer trabalhar aos sábados – seja porque razão for – então que opte por um emprego que não os faça trabalhar aos sábados.

Agora era giro todos os católicos apostólicos romanos negarem-se a trabalhar aos domingos, os muçulamos a não trabalharem no ramadão. Então e os ateus e agnósticos?!

Eu quando assinei o meu contrato sabia que podia ter que vir trabalhar à noite. Embora adore dormir e não funcione bem à noite.

22.7.14

A problemática da Palestina

Comecei este post umas três vezes e continuo sem saber bem o que escrever.

Se é bem verdade que Israel não tem nada que ocupar a terra alheia, construir barreiras ou limitar os direitos alheios, também é verdade que o Hamas não se deve abrigar em casas de civis nem brincar aos mísseis.

Esta gente tem é que ser trancada numa sala e só de lá saír quando houver uma solução para aquele problema.

Eu ofereço a minha sala.

A afirmação do indivíduo

Tenho notado que o meu Facebook aparece pejado de referências à necessidade de sermos nós mesmos. Ou com notinhas próprias de adolescentes com acne dizendo que são como são e quem não gosta não gosta.

E isto faz-me muita espécie.

Obviamente que cada um é livre de publicar o que quiser e se eu não quiser ver, tenho bom remédio. Mas as publicações deste tipo deixam-me a pensar. E deixam-me, vá, incomodado.

Cada um é como cada qual, como diz a minha mãe. E é bem verdade. Mas essa máxima de prezar o indivíduo acima de tudo é assim tão válida? Há então problema em andar nú no trabalho porque estão mais de 30C e eu gosto de andar nú? Posso pregar um estalo numa criança mal comportada porque o paizinho não lhe ensina o que são maneiras? Posso cuspir na cara de uma pessoa só porque é idiota?

A resposta é: não.

Se é bem verdade que cada um é como cada qual, também é verdade que vivemos todos juntos. Que não precisamos de esfregar quem somos na cara de ninguém. Há que sermos o que somos, sem dúvida, mas sem nos julgarmos mais que o próximo.

Porque viver em sociedade e ser-se respeitado enquanto membro do grupo passa por isso. E não quer dizer que sejamos só mais um. Igual aos outros.

E se também é verdade que quem não gosta não gosta, então, meus amigos, tenham os tomates de confrontar quem não gosta e assim escusam de lavar a roupa suja em público. Resulta que é uma maravilha e não funciona só como expiação de uma personalidade a precisar de afirmação.

(Não sou dono da verdade. Mas incomoda-me este individualismo idiota em troca de nada.)

25.6.14

Cenas dos próximos capítulos ou a pequena implosão do PS por conta de Seguro

Há certas coisas que eu não percebo. E não me refiro ao penteado do Cristiano. Refiro-me, isso sim, à birra de Seguro.
Só numa terra de velhos do Restelo é que se pode pensar que uma vez eleito, o lugar que se ocupa é indisputável. Se há descontentamento e alguém decide disputá-lo há é que ir à luta. Mas antes das coisas chegarem a esse ponto, aliás, tem que se fazer um bom e sustentado trabalho para que não haja cobiça ao seu lugar. É unir e trabalhar em prol de todos. É perceber o que se passa e resolver as situações. E não dizer que uma vitoriazinha nas Europeias é uma vitória do caraças.
O que está a acontecer no PS é, neste momento, vergonhoso. E as facções que se organizam são muito perigosas.
Eu até concordo que a megalomania de Sócrates não fez bem a ninguém, mas deitar isso cá para fora em jeito de ataque a alguém que quer o melhor para o partido não é bonito. E, pior, é mau. Muito mau para o partido.
O líder de um partido tem que ter ideias concretas, propostas, trabalho feito e carisma. Nem sempre é fácil reunir isto tudo numa pessoa, mas também não é qualquer um que deve ser líder de um partido. Acho muito bem que Costa tivesse disputado a liderança de uma pessoa apagada e que reage mais para dentro do seu partido do que para um governo que come o seu próprio país.
É triste que tenhamos que viver um verão inteiro na incerteza do futuro, quando, na verdade, já se devia estar a trabalhar para o futuro de forma coesa, fundamentada e sem ressabiamento.
Basicamente, há uma disputa com que se tem de lidar. Protelar a sua resolução é mau para todos.
Por isso, temos novela para continuar...

2.6.14

Há coisas que não me saem da cabeça

1. É triste que os senhores europeus tivessem que levar um murro no focinho para perceberem o quão desfasados da realidade estão. É mesmo muito mau quando os decisores políticos não sentem o que o comum dos mortais sente e quer. E depois dá no que dá;

2. Lamento que o senhor Seguro não seja tão eloquente, contudente e sábio em relação à situação do país e no confronto com o senhor Passos Coelho quanto tem sido internamente com o senhor Costa. É pena, porque assim teríamos uma oposição muito mais concertada, certeira e - verdadeiramente - vitoriosa.
Eu vou querer ver no que isto dá. Não será um processo fácil mas duas coisas resultarão: a abertura do partido às bases e o reforço da coesão socialista, seja quem for que passe pelo crivo;

3. Segundo li no outro dia,  há uns 900 milhões a mais no orçamento de Estado. Que podiam ser usados para ultrapassar o chumbo do tribunal constitucional. Mas desde ontem que o malévolo Passos Coelho está em consultas para ver como é que nos vai metralhar ainda mais. Assim naquela da tortura.
É estranho que nem sequer pense que ter não sei quantos orçamentos consecutivos chumbados não é um problema e nem sequer vá pensar noutras opções senão no aumento de impostos, com o qual já ameaçou.
Ele que me desculpe - que não gosto de ofender ninguém - mas o que é demais também cansa.

28.5.14

Da Europa

O protagonismo dos populistas era inevitável. Numa Europa que se esqueceu do que é a solidariedade, era inevitável. Numa Europa que se ausenta do dia a dia do cidadão comum, era inevitável. Numa Europa que segue cega a austeridade, era inevitável.

Como muitos dizem, a gente já viu isto acontecer antes. É fácil apontar o dedo a minorias, culpabilizando-as de todos os males do mundo. Mas o que é preciso, claro, é uma política de crescimento e de passos em frente. De forma sustentada. E o que tem vindo a ser seguido é o inverso.

Era óbvio que os grandes partidos instalados iriam reagir, porque sabem muito bem a inacção e a distância que têm e as coisas não podem continuar assim. A instituição europeia não pode servir só para manter a Europa una, mas sim para a fazer melhor.

Li há pouco um estudo que mostrava que, apesar de tudo, e até no Reino Unido, a populaça quer a união na Europa. Mas, acho, quer que essa união lhes traga proveitos e não o a situação que se vê na maioria dos países.

Espero sinceramente que este valente susto meta as coisas nos eixos. Porque senão não valerá a pena o esforço de todos.

E uma última nota para a nossa telenovela favorita: a vitória do PS.

Uma vitória mínima, tagencial. Que não traz nada de novo. Porque resulta do descontentamento com a coligação do poder e não mostra a adesão às ideias de Seguro. Aliás... Devia ter usado aspas em "ideias de Seguro".

(Aliás, o populismo também ganhou em Portugal com dois lugares para o MPT. Que vai ser giro seguir.)

De resto, Costa é o caminho. Não só de agora, mas desde há muito. Porque traz trabalho feito, uma posição séria e privilegiada. E é isso que é preciso. Não meia dúzia de palavras e uma vozinha que falha quando se estica uma beca mais.

A também não vale a pena condenarem os abstencionistas em praça pública. Porque a Europa é uma coisa longínqua e indiferente para muitos. Lamento, mas é a realidade.
Mas, sim, depois não reclamem.

26.4.14

Do 25 de Abril

O 25 de Abril é uma data importante no nosso calendário. Foi um acto que funda a estrutura em que nos baseamos agora. Sem ele, não haveria educação democratizada, acesso a cuidados médicos facilitada nem tão-pouco este blog.
O 25 de Abril acabou com um regime que ditava a posição social das pessoas, que impedia as massas de falar, que as violentava, que as amordaçava.

Mas, creio, o 25 de Abril não deve ser confundido com o ideário da esquerda radical. E é-o muitas vezes. Porque serve de desculpa para tudo, é referido todos os dias, banalizando-o até ao nada.

É bem verdade que não vivemos num mundo perfeito. Que há quem ainda passe fome e que as grandes fortunas estão de volta pela mão deste governo autista. E, desculpem-me, mas estamos infinitamente melhores do que nos tempos do outro senhor.
Mas em vez de vermos referências a 1974, que tal termos soluções de hoje? Que tal haver uma reinvenção do espírito de Abril adaptada aos dias de hoje? 
A não ser que me venham falar da necessidade de outra revolução - uma democracia não se compadece com tal coisa, parece-me - ou de necessidade de acabar com a censura - que não existe.

Fico feliz por um bando de gente se ter organizado e posto fim a um regime nojento que nem com primaveras chegou a lado nenhum. Mas custa-me ver um 25 de Abril usado e abusado para tudo e mais alguma coisa e ver, na verdade, poucos resultados, poucas ideias concretas, poucas acções para verdadeiramente melhorar o que vivemos.

O 25 de Abril merece ser lembrado e festejado. Mas também respeitado e usado para andarmos para a frente.

E uma nota final para a minha querida Inconseguida que, se não ouviu dos capitães de Abril o que não queria ouvir, acabou por lhes dar mais protagonismo e, ao convidar o povão para a assembleia, também ouviu o que não queria. E nem o cravo na lapela a escudou.

11.4.14

Há senhoras reformadas que deviam era ficar em casa a ver a novela

A nossa querida segunda figura de Estado fez mais uma das suas. 

E se eu já não ia com a cara dela - e isto não tem nada a ver com a sua pronúncia nem com outras insinuações de carácter pessoal - agora é que me apetecia lá ir às galerias gritar vai para um lar, ó pá.

Eu não sou dado ao 25 de Abril, confesso. Não gosto do seu uso constante para tudo e mais alguma coisa. Reconheço-lhe a maior importância na nossa história, mas precisamos de evoluir, de andar para a frente e arranjar novos slogans, novas referências, novos heróis.

E os capitães de Abril merecem, sem dúvida, a nossa reverência, mas também não são o garante de nada e não se devem armar aos cucos como muitas vezes acontece.

Mas esta senhora, armada em filósofa de autocarro, tem que ter cuidado com o que diz, tendo em conta o que quer dizer. Ela não pode minimizar a presença de quem lhe deu a liberdade para dizer o que diz, para estar onde está e para fazer o que faz. Não pode. 
Esta senhora não se pode arrogar o direito de impedir que vozes certamente discordantes do seu espectro subam ao púlpito e digam o que têm a dizer.

Aliás, o púlpito não tem que ser um feudo dos senhores que por lá se passeiam. Quando passeiam, diga-se. O púlpito pode muito bem ser usado por quem representa a sociedade, de forma a que preocupações, anseios ou até elogios possam ali ser expressados.

O que é aquele púlpito senão todos nós?!

Chiça penico!

28.3.14

A avó Teodora é uma divertida

Esse ícone dos tempos modernos - a querida Teodora Cardoso - veio há uns dias sugerir que se taxem os levantamentos de dinheiro de forma a incentivar a poupança.

E eu digo à avó Teodora: o people levanta dinheiro porque precisa de comer, de se vestir, de se deslocar. Não é para andar na Avenida da Liberdade às compras.

Pelo menos o people comum.

Antes deste valentíssimo disparate, a avó Teodora podia sugerir que o Rock In Rio pagasse aos "voluntários" que vão para lá trabalhar, que a EDP baixasse o preço da eletricidade, que as contra-ordenações não prescrevessem.

Mas se calhar o louco sou eu.

19.3.14

A distância destrói relações

Há aquela coisa a que se chama distanciamento entre a política e a realidade. E vi isso acontecer nos últimos tempo e ontem foi um bom exemplo disso.

Nos últimos tempos tenho visto e lido notícias sobre cortes brutais ou totais em muitos dos apoios que o Estado oferece a crianças com necessidades especiais. Eu, que não gosto da subsídio-dependência, entendo porém que é necessário o Estado apoiar quem de facto necessita. O Estado Providência existe por alguma razão...

Mas o que me deixa triste e muito céptico face a uma certa política - baseada em números - foi o que vi ontem: uma manisfestação de dezenas de famílias afectadas pelos cortes destes apoios e que nada mais pedem do que o que recebiam. E a resposta do senhor ministro da Segurança Social foi a de que o apoio nos últimos anos tinha aumentado não sei quantos milhões de euros.

É bonito, sim senhor. Mas os cortes afectam quem estava na rua a manifestar-se. Por isso, convinha perguntar se os milhões estão a ser dirigidos para quem devem ser. Também convinha ver as questões das pessoas escalarecidas. Porque mudar as coisas nos gabinetes e maribarem-se para a realidade nunca dá bom resultado. 

Não é função do senhor ministro ir ver caso a caso, mas seria de bom tom ter referido que, a par do maior investimento, iria mandar ver o que se passa com aquela gente toda para poder estudar soluções.

Mas não.

E até pode ser que alguns apoios devam ser cortados, mas o ministro vir nestes termos não cai bem. Não cai bem a quem estava na rua a segurar bandeiras negras e a lamentar a sorte dos filhos.

3.3.14

Diz que estamos melhores

Diz a douta Ferreira Leite que o país não é uma coisa abstracta, que nele vivem pessoas. E não posso estar mais de acordo.

O senhor Coelho diz que estamos melhor, que agora é que vai ser, que assim é que é. Mas o que vêm as pessoas no dia a dia? Impostos mais altos, menos apoios, um desinvestimento em áreas estratégicas como a Saúde e a Educação. 

Quer-me cá parecer que entre o estarmos melhor e o sentirmo-nos melhor vai uma grande diferença.

Dói quando se vê uma família com pouco mais de seiscentos euros mensais ver o subsídio que recebia terminado e assim o filho não poderá continuar a receber o apoio que recebia até agora por conta dos seus problemas de aprendizagem. É lixado, aos 12 anos...

Ou ver pessoas que vão deixar de ter acesso a tribunais e outros serviços só porque vivem no sítio errado e, maganos, nem transportes têm como deve ser para chegarem ao concelho ao lado.

Não defendo a subsídio-dependência. Mas defendo o pagamento digno do trabalho, porque competirmos pelos baixos salários não nos levará a lado nenhum.
A equação é muito fácil: se eu receber mais, gasto mais, pelo que pagarei mais impostos e haverá mais dinheiro a circular.

Como é que chegamos lá? Com reformas estruturais, sim, mas feitas com pés e cabeça e não subservientes a Berlim, a Washington ou coisa que lhes valha.

E para isso é preciso muita conversa, muito entendimento, muito diálogo e, sobretudo, uma mudança de paradigma do caraças.

Um mero peão

Li há pouco que a Rússia ameaçou a Ucrânia com um ataque pleno se não render a Crimeia até às três da manhã de terça-feira. O que faz com que seja muito bem possível eu acordar amanhã com uma guerra a decorrer no outro lado da Europa.

É triste. Porque aquele país é um mero peão nas esferas de influência que ainda se sentem. Uns com um ego enorme, outros com dinheiro e recursos nos bolsos e os coitados no meio que se lixem.

A desagregação da URSS pôs a nú as divisões alietórias de espaço que tinha dentro de si. Exílios, interesses, migrações em massa moldaram a coisa e agora é isto.

E o que me assusta não é a sombra da terceira guerra mundial. Que acho sinceramente que isso não irá acontecer. O que me atormenta é que a Ucrânia vai ficar sozinha e abandonada. Como já esteve até aqui.
Senão vejamos: a China já veio apoiar a Rússia. Não que a China se meta em guerras dos outros, mas tem todo o peso que o seu novo estatuto de primeira potência económica mundial lhe confere. A Rússia não teme o Ocidente porque o comprou com casas em Londres ou na Riviera Francesa ou na ilha de Chipre. Os EUA não se vão meter numa guerra que lhes vai trazer mais traumas e custar uma pipa de massa. A Europa é um franganito que não irá actuar numa frente destas e vai alinhar com o Reino Unido que já veio dizer que é pela paz e pelo diálogo.

E no meio, lá está, lixam-se os que lá estão. Com os revivalismos de extrema direita, com a confusão em ser pró-Rússia e ostentar bandeiras com foices e martelos, com as quedas de governos que têm o apoio de metade do país e, claro, tudo isto na premissa de que como há interesses de uns no país dos outros butes lá invadir aquilo.

Com base nisto eu voto na invasão da Sibéria por Portugal, porque há lá petróleo, devem lá haver uns portugueses espalhados e é mais fresquinho no verão. É, por isso, do nosso interesse.

18.1.14

O referendo

Hoje as minhas palavras são ditas por este senhor, neste artigo aqui.

Se tirarmos a idolatria à Juventude de outrora, é o que penso e merece ser dito e esfregado na cara dos betinhos que não têm mais nada em que pensar.

De resto, só de notar a maravilha que é a disciplina de voto nesta matéria, quando não a houve no começo desta história. Não faz sentido e é estúpido. Bem fez a Teresa Leal Coelho -  e outros - em não aparecer e a dar-lhes com os pés. Agora cá declarações de voto!

Continuo, porém, convicto que entre Belém e o Bairro Alto esta ideia estapafúrdia não irá avante.

4.1.14

É verdade que há um problema. Mas sê-lo-á o que ele diz?

O tio Nuno Melo, agora um candidato a expatriado em Estraburgo, vem dizer que o Tribunal Constitucional é um problema em Portugal. E eu fico, vá, engasgado.
É curioso os senhores deste governo tecerem tantas críticas ao Tribunal que, quer queiramos quer não, é o garante do respeito pela lei do país, impedindo o governo de atacar sem misericórdia todos aqueles que já vão tendo pouco. Sim, que não os vejo irem atrás de quem tem guito e que, em contraciclo, acumula milhões de lucros.

Mas voltemos à vaca fria.
É verdade que o Tribunal Constitucional também pode fazer interpretações políticas das questões que por lá passam, porque é constituído por juízes nomeados pelos partidos, mas então expliquem-me lá porquê que já houve votos a favor de certas deliberações contra as políticas do governo dos juízes alinhados com este espectro político? Serão uns doidivanas dissidentes?
Mais, fora o Constitucional o último entrave aos devaneios de uns senhores políticos, então porque procuraria até o Presidente a opinião dos magistrados? 

A verdade é que este país tem um problema. E também é verdade que o que calhou na rifa a este governo não foi pêra doce. Mas o problema não é o Tribunal Constitucional. O problema é muito mais vasto, desde a forma como as leis são feitas - se fossem transparentes como a àgua nem havia tanto trabalho na Rua d'O Século mas também se acabava a mama dos advogados-deputados - à forma como a política é feita neste país - aos retalhos e sem acordos abrangentes e duradouros - e, claro, à forma como a troika e "os mercados" sugam até quem está na penúria como nós, porque não podem esperar mais tempo e dar-nos mais uns aninhos para nos recompormos como deve ser e o governo não ter de exigir a todos - embora eu prefira dizer a alguns! - dinheiro aqui, já e agora.