2.2.13

Ulrichiar, v. intr.: dizer disparates de barriga cheia; não ter noção do digno

Anda por aí um banqueiro da nossa praça a dizer disparates. Claro que o facto de ser banqueiro e de o seu banco ter tido lucros de centenas de milhões num período de crise agudíssima para muita gente não lhe tira qualquer direito em andar por aí a palrar disparates.

Já quando foi a história da Tia Pepa (alguém me esclareça se se lê "Pêpa" se "Pépa" se "I don't give a fuck"), o pessoal se incomodou. E eu também me senti incomodado. Mas como essa personagem veio dizer disparates à praça pública há mais de uma semana, já a gente se esqueceu dela. Entretanto, vem o Herr Ulrich reiterar que Portugal aguenta mais austeridade, que se os gregos aguentam a gente tambem aguenta e que se há por aí gente sem abrigo, qualquer um de nós o poderia também ser. Porque se eles aguentam, qualquer um de nós aguentaria (os seus comparsas partidários devem dar-lhe um euro por cada vez que conjuga o verbo aguentar).

Acho o argumento maravilhoso. Porque eu diria que o Herr Ulrich aguenta limpar o rabiosque a notas de quinhentos euros, eu acho que também aguentaria. Ou talvez não, porque sei dar o valor ao dinheiro.

Mas esta questão não tem somente a ver com as posses das pessoas. Não me quero prender somente à cor roxa das mais belas notas de euro... Isto tem a ver com a dignidade humana que passa, não só por ter um prato de sopa para comer, mas passa também por ter um tecto, poder dormir abrigado, poder ter acesso ao mínimo conforto.

Eu até estaria disposto a passar uma noite na rua com o Herr Ulrich. A sério que passava. Até o deixava escolher um vão de escada onde pudéssemos dormir sob uns cartões que iriamos ter que ir buscar às traseiras de um qualquer supermercado (embora eu preferisse uma mercearia).

O Herr Ulrich, tal como a Tia Pepa, tem direito a dizer o que lhe aprouver. Mas não pode esquecer que o seu lucro vem do bolso de todos nós. Directamente ou indirectamente. Mais, o Herr Ulrich, como qualquer personagem deste nosso cantinho, tem que ser comedido no que diz quando em situação confortável e face ao que se passa por esse país fora onde as pessoas começam a cortar nos básicos. Haja respeito!

Herr Ulrich, se me está a ler, fico à espera que escolha o vão de escada. Só lhe peço que esperemos por uma noite de muita chuva e não vale ser o seu vão de escada debruado a ouro e mármore de Carrara.

PS - Com especial agradecimento a F Serrano pela inspiração no título

1 comment:

  1. o k é k trazes de novo? NADA... aprende que abrir um blog para dizer o que todos mais ou menos pensam, mais vale estares calado... a menos que precises que te leiam... lol... as opinioes valem quando sao DIFERENTES... e tu és do mais comum... e ainda por cima esquerdista

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