É só para dizer que temos uma Presidência da República cujas grandes preocupações sobre país variam entre o "de" e o "da".
23.2.13
A cadela e o bilhete
Se ele devia ter comprado o bilhete para a cadela, devia. É obrigatório.
Se o pica devia ter resolvido a situação de outra maneira, devia. Resolver situações faz parte da job description, calculo.
Se a polícia devia ter desancado nos rapazes, não, não devia. É absolutamente ridículo tendo em conta o "crime" em questão. E a polícia devia e deve saber lidar com as situações na proporção devida. Mesmo que tenha havido desrespeito à autoridade (cuja posição tende muitas vezes a ser questionada nas mais pequenas coisas).
E, mais, hoje em dia a indignação estala em menos de nada. Basta termos um telemóvel e partilharmos o que vimos. Assim também a responsabilização das instituiçõese indivíduos aumenta.
19.2.13
Ninguém gosta do Relvas
Mas ele nem se parece importar com isso, que até canta com quem lhe grita.
A cena é que o senhor é carne para canhão. Ou se não é, parece.
E, sinceramente, não me inspira confiança. Aquela coisa das equivalências é um nadinha triste para não ser explicada como deve ser. Porque um político é julgado em praça pública, quer se queira quer não. E por isso precisa de provar que fez tudo nos conformes.
Ontem, o senhor foi confrontado com perguntas das bem boas no Clube dos Pensadores. Portou-se ele melhor do que o seu interlocutor, diga-se.
Já hoje, foi perseguido nos corredores do ISCTE. Exageros estalinistas à parte, a verdade é que todas estas manifestações brotam de um sentimento generalizado de roubo, de esforços exagerados e pouco repartidos.
Se o queixume é constante e sobre o mesmo, não deveria o governo ser um nadinha mais cuidadoso com quem o mantém?
To fatura or not to fatura, that is the question
Parece que, afinal o
papão das Finanças não pode vir atrás de nós se não pedirmos uma fatura. E nem
é preciso mandar ninguém ir “tomar no cú”, como disse o outro.
Dizem os entendidos
que só em situação de fiscalização coordenada é que poderão pedir uma
fatura ao inocente cliente que vai ali à esquina beber a sua bica. Por isso,
vá, fiquem descansados que não irão parar aos calabouços da Judiciária e
sentarem-se ao lado dos velhotes que roubam uma lata de atum e um papo-seco.
Sim, que duvido que encontrem lá os tubarões.
Seja como for, e
digo-o honestamente, não me espanta esta medida do governo. Já tem tomado
tantas tão disparatadas que o pessoal estrabucha quando sai uma nova ideia de
São Bento, mesmo que, no final de contas, não seja assim tão má. E seria ainda
melhor se vivessemos num país com poder de compra para pagar todos os impostos
que deve pagar. Sim, que muita gente prefere não pedir fatura se for arranjar
as velas do carro porque fica muito mais barato. E parece que os senhores
governantes não percebem isto. Eu, que nem sou economista, percebo que esta
espiral de impostos atrás de impostos só vai agravar a situação. Mas, pronto, a
mim ninguém me ouve.
E depois há outra:
porquê que o governo não comunica como deve ser? Com tanto disparate que já
saíu de lá, já podiam ter aprendido que o pessoal fica louco quando se dizem
certas coisas e se dá azo a interpretações. É o papel do governo esperar
reacções e comunicar as medidas com argumentos que visem conter essas reacções.
Se não sabem isto, contratem um novo gabinete de comunicação que o que lá está
não serve. Ou mandem o Portas falar com os portugueses. Assim como assim, ele
já se está a preparar para dar a cara pelos quatro mil milhões. E quem
conquista as feiras, conquista qalquer público.
Gotta love the Kims
Esta coisa da Coreia do Norte dá que pensar: os gajos fazem o seu povo
passar fome, mas mandam foguetes para o ar e detonam bombas debaixo de
terra. Mas, pronto, aquilo é uma ditadura esquizofrénica dos tempos da
Guerra Fria e um gajo tem que dar um desconto.
Lembro-me que, qando o querido líder lá do burgo experimentou a primeira bomba, a China ficou de pé atrás. Afinal não é do seu interesse ter uns loucos a brincar à fusão nuclear à porta e desestabilizar toda aquela zona. Sobretudo a Coreia do Sul e o Japão, que, economicamente têm uma grande importância, além de terem como aliado o Obama. E o resto do mundo, a bem dizer.
De um ponto de vista prático, a Coreia do Norte não é de todo importante para a China. Afinal, vale pouquíssimo na sua balança comercial e o apoio ao regime dos Kims só se mantém por razões ideológicas. A atirar para a caridadezinha a Jonet. E sem bifes.
Quer-me cá parecer que isto vai chegar a um ponto em que os senhores de Pequim batem o pé e aquilo dá para o torto. Além de que a China, e com os novos líderes, tem preocupações diferentes de outrora: combate à corrupção, expansionismo diplomático, conciliação da modernidade com a censura do regime, por exemplo.
E há mais um pormenor: até aqui a Coreia do Norte ia fazendo uma diplomacia de chantagem, de amuo, do género "vá, quero comida senão parto esta merda toda". E parece-me que se começam a distanciar disto. O que torna tudo mais grave, mais difícil de prever e muito mais arriscado.
E nem trago à baila a desgraça humanitária que para ali vai desde que o paralelo 38 e aquela zona desmilitarizada - sítio bonito de se ver, diga-se - caíram naquela península.
Nesta
novela não faço apostas quanto ao final. Até porque um governo (ainda
mais) à direita no Japão, uma nova presidente no Sul que precisará de se
impôr e as manias americanas do costume são factores a considerar.
E ainda diziam uns, há um par de anos, que aquilo era o paraíso dos trabalhadores... Yeah, right.
9.2.13
Os invertidos, as libertinas, os infiéis e os infertéis: os grandes problemas lusos
Li por aí que uns senhores que não têm mais nada com que se preocupar do que com apliques de silício, que os problemas da contemporaneidade lusa se devem sobretudo ao casamento gay, à liberalização do aborto, à nova lei do divórcio e à reprodução artificial.
Pois eu discordo. E vejamos porquê:
O casamento gay não trouxe ao mundo um Relvas, por exemplo;
A liberalização do aborto não impediu que os sacripantas do BPN andassem por aí a mamar à grande e à francesa;
A nova lei do divórcio não virá impedir que os senhores da CP e do Metro façam as suas greves que, de tão comuns, já se tornaram ineficazes e só atingem o povão. Os ministros andam de viatura do Estado;
A reprodução artificial não vem substituir Deus. Aliás, se a reprodução artificial existe é porque os deuses o permitem. Senão era já um terramoto!
Resumindo e concluindo: fossem os nossos problemas estas quatro coisinhas e estariamos nós muito bem.
Preocupem-se é com o bem de todos, não com o que as pessoas fazem na sua vida pessoal! Até porque a noção de família mudou um nadinha desde a Idade Média...
Eu, se fosse um deus, eram os tais senhores já de orelhas de burro ao canto da sala de castigo a olharem para a parede.
4.2.13
Andar a pé é bom e barato. Que o diga a Glória.
A deputada Glória Araújo foi apanhada com os copos atrás de um volante aqui há uns tempos. E depois seguiu-se aquela confusão do está ausente da Assembleia, não está ausente da Assembleia, tem imunidade, não tem imunidade...
Pois a mim isso pouco me importa. A senhora foi apanhada com a taxa de alcoolemia acima de média. Acho muito bem que lhe seja levantada a imunidade parlamentar e responda pelo que fez e ande a pé, que só faz é bem e o tempo começa a melhorar.
Eu não preciso que os deputados eleitos à Assembleia da República sejam poços de virtudes. Para isso, virava-me para a Igreja (cof, cof). Este é um erro que a senhora cometeu, há que responder por ele e seguir em frente.
A escolha estúpida que esta senhora fez foi errada mas difere na sua natureza das suspeições sobre, por exemplo, Franquelim Alves ou Miguel Relvas. Porque uma coisa, na minha singela opinião, é ser apanhado com os copos na sua esfera pessoal, outra coisa é sequer haver suspeições de coisas graves que minam a credibilidade de um governante, seja em que patamar do tacho, perdão, pirâmide estiver.
Atenção que não estou a acusar ninguém de nada. Quem sou eu! Estou só a dizer que, em política, as aparências contam. E contam muito.
Django
Ontem fui ver o Django Unchained. E é pura e simplesmente brilhante.
Sou um admirador de Tarantino, aquele louco que consegue tocar o mainstream, mas sem dele fazer parte.
Aliás, o meu filme favorito de todo o sempre é seu: Kill Bill 1, essa montra de sangue e lutas kitsch.
Podem dizer que este filme é só sangue e niggas por tudo quanto é lado. Mas essa é a mestria do filme e do seu realizador: usar os espichos de sangue em forma de arte. Como um acrescento à beleza do filme e não como um mero derrame de coisas vermelhas. E os niggas têm que lá estar. Porque é uma realidade que foi vivida e que não pode ser escamoteada, apesar de dolorosa para a consciência colectiva ainda viva dos Estados Unidos.
Há imagens brilhantes, tais como a abertura ao estilo Western dos idos anos 60. Ou aquela em que o líder do bando dos sacos é alvejado sem se ver ainda montado no cavalo. No cavalo que não pára e fica coberto de sangue. O próprio Tarantino a ir pelos ares é um comic relief genial. Uma piada sobre si próprio que poucos conseguiriam fazer.
O humor que atravessa o filme todo, com picos aqui e ali, é brilhante. Cáustico. A fazer troça das realidades.
Jamie Foxx está perfeito. A suas mudanças de estilo ao longo do filme são exímias.
Mas, para mim, o melhor, é sem dúvida Christoph Waltz, esse mestre dos pormenores, das caras, da dicção, dos gestos.
Acho que chega para dizer que achei o filme extraordinário. É tão bom, tão bom que estou capaz de o ir ver outra vez ao cinema.
Agora deixem-me lá regressar à banda sonora no Youtube...
3.2.13
Problemas de afirmação têm-nos os adolescentes
É importante em democracia haver uma oposição forte, coesa e que apresente alternativas. Sobretudo em situações em que o neo-liberalismo impera e as bases do país são abandonadas em favor de BPNs e afins.
O problema em Portugal neste momento é que uma oposição forte, coesa e que apresente alternativas não existe. Sejamos sérios: o PCP vive num mundo que não existe e o BE, qual Cérbero dos tempos modernos, anda por aí aos caídos. E depois temos o PS. Com o Seguro que de seguro pouco tem.
As coisas são como são, e a alternativa aos senhores que estão no poder só poderá ser o PS. Mas para isso, tem que se encontrar. A vários níveis. Tem que ter um discurso constante sobre o que pensa, com um líder que reúna consensos e que transpire carisma. Tem que ter as bases reunidas para que se possa impôr como uma alternativa. E tem que deitar para fora do Rato todas as alternativas que tem para oferecer a estas políticas de abandono das massas.
Basicamente, a estratégia do Costa é não fragilizar o PS em demasia. Porque isso custaria mais ao país do que a bolinha baixa do Seguro, mas esse mesmo Costa não deixará de agarrar a oportunidade se o Seguro der para o torto.
A questão é: não seria melhor ele dar para o torto de uma vez por todas?
E mais uma coisa: o socratismo já lá vai. Foi chão que já deu uvas. E não vale a pena culpabilizar o refugiado parisiense pela situação nefanda do país. Essa situação é bem mais profunda e antiga... Mas o Socas não ajudou muito...
2.2.13
Ulrichiar, v. intr.: dizer disparates de barriga cheia; não ter noção do digno
Anda por aí um banqueiro da nossa praça a dizer disparates. Claro que o facto de ser banqueiro e de o seu banco ter tido lucros de centenas de milhões num período de crise agudíssima para muita gente não lhe tira qualquer direito em andar por aí a palrar disparates.
Já quando foi a história da Tia Pepa (alguém me esclareça se se lê "Pêpa" se "Pépa" se "I don't give a fuck"), o pessoal se incomodou. E eu também me senti incomodado. Mas como essa personagem veio dizer disparates à praça pública há mais de uma semana, já a gente se esqueceu dela. Entretanto, vem o Herr Ulrich reiterar que Portugal aguenta mais austeridade, que se os gregos aguentam a gente tambem aguenta e que se há por aí gente sem abrigo, qualquer um de nós o poderia também ser. Porque se eles aguentam, qualquer um de nós aguentaria (os seus comparsas partidários devem dar-lhe um euro por cada vez que conjuga o verbo aguentar).
Acho o argumento maravilhoso. Porque eu diria que o Herr Ulrich aguenta limpar o rabiosque a notas de quinhentos euros, eu acho que também aguentaria. Ou talvez não, porque sei dar o valor ao dinheiro.
Mas esta questão não tem somente a ver com as posses das pessoas. Não me quero prender somente à cor roxa das mais belas notas de euro... Isto tem a ver com a dignidade humana que passa, não só por ter um prato de sopa para comer, mas passa também por ter um tecto, poder dormir abrigado, poder ter acesso ao mínimo conforto.
Eu até estaria disposto a passar uma noite na rua com o Herr Ulrich. A sério que passava. Até o deixava escolher um vão de escada onde pudéssemos dormir sob uns cartões que iriamos ter que ir buscar às traseiras de um qualquer supermercado (embora eu preferisse uma mercearia).
O Herr Ulrich, tal como a Tia Pepa, tem direito a dizer o que lhe aprouver. Mas não pode esquecer que o seu lucro vem do bolso de todos nós. Directamente ou indirectamente. Mais, o Herr Ulrich, como qualquer personagem deste nosso cantinho, tem que ser comedido no que diz quando em situação confortável e face ao que se passa por esse país fora onde as pessoas começam a cortar nos básicos. Haja respeito!
Herr Ulrich, se me está a ler, fico à espera que escolha o vão de escada. Só lhe peço que esperemos por uma noite de muita chuva e não vale ser o seu vão de escada debruado a ouro e mármore de Carrara.
PS - Com especial agradecimento a F Serrano pela inspiração no título
PS - Com especial agradecimento a F Serrano pela inspiração no título
Disclaimer
Andei afastado destas coisas virtuais, que a minha vida tem pouco para ser partilhado.
Mas agora apetece-me regressar. Com um novo intuito: o de opinar. Porque é como digo... Eu adoro uma valente sessão de opinanço.
Hoje toda a gente tem opiniões, toda a gente sabe de tudo, toda a gente pode ir à televisão opinar. Mas eu sou um pouco mais modesto e só quero opinar sobre o que me der na real gana e nem faço questão de ir à televisão ser interrompido pela Avillez nem tão pouco quero ir fazer sombra ao Professor Marcelo.
No fundo, virei aqui deixar uns gritos sobre o que me incomoda. Poderão essas preocupações parecer mais ou menos importantes, mas aqui, o que ficará, é, lá está, a minha opinião.
Comentários serão naturalmente benvindos, desde que venham por bem.
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