Tenho andado a pensar
nesta novela que foi a demissão irrevogável do Portas e no apoio
incondicional à estabilidade de sua excelência, o presidente da
república.
Quando a coisa saiu cá para fora, fiquei estupefacto. Pensei que era o Portas a fazer uma fita das suas. Mas das grandes e muito, muito feias. Mas fui esperando para ver.
Quando a coisa saiu cá para fora, fiquei estupefacto. Pensei que era o Portas a fazer uma fita das suas. Mas das grandes e muito, muito feias. Mas fui esperando para ver.
Hoje
acho que o golpe absolutamente palaciano que deu – e isto não é uma
piadola fácil ao facto de agora trabalhar num T0 no Palácio das
Laranjeiras – foi genial.
É
a única coisa que me ocorre dizer. Porque segurou de forma muito mais
forte o poder que tinha dentro do governo. Digamos que o agarrou pelos
tomates e apertou-os.
Eu
jamais seria capaz de dizer que o agora número dois do governo não tem
princípios nenhuns, que é um oportunista político e que se manteve no
governo depois de se demitir irrevogavelmente mesmo com a manutenção da
senhora ministra das Finanças. Jamais!
E
a cereja no topo do bolo vem em forma da sua actual posição de número
dois quando o seu partido não espelha de forma alguma uma segunda
posição nos votos. Não fora a coligação e o Paulinho das feiras estaria a
virar frangos na assembleia da república.
Ora,
se esta novela me deixou abismado, mais ainda me deixou boquiaberto –
ao ponto de ter desencaixado o maxilar – a posição tomada pelo mais
elevado magistrado da nossa nação, o Cavaco.
Ou
eu sou muito parvo ou o senhor anda muito trocado e não sabe o que quer
dizer ser pela continuidade, ser da paz e do bem. Eu acho que sou muito
parvo, só pode.
Quando
ele falou ao país dizendo que queria uma concertação entre os partidos
do arco da governação, caiu-me tudo ao chão. Acho que mais pela surpresa
de suas palavras – as últimas que me haviam surpreendido foram aquando
da sua explicação da aceitação da lei do casamento entre pessoas do
mesmo sexo – do que propriamente pelas consequências das suas palavras.
Vai
daí, foi a vergonha que se seguiu. Uns fazem birra, outros fazem birra.
Ninguém se entende, mas parece que há um pontinho pequenino onde,
afinal, há entendimento.
Quero
com isto dizer que acho esta novela e, sobretudo, o seu desfecho
absolutamente vergonhoso. Não pelo Portas, não pelo Cavaco – e acho que
até lhes tenho que agradecer! – mas sim pela absoluta falta de carácter,
de sentido de Estado e de sentido de “vamos levar isto para a frente”
dos nossos partidos do arco de governação (que os outros dizem coisas
ainda mais fantásticas).
É
triste que, aos 34 anos, me aperceba que vivo num país de políticos que
só fazem política. Ou seja, usam a oratória, regorgitam ideias,
batalham uns com os outros mas, no fundo, não chegam a lado nenhum.
Quando
me diziam no Japão que lá se governa por consensos – com todas as
outras falhas que aquele sistema tem – ou que na Escandinávia se fazem
acordos interpartidários para as grandes áreas de governação, eu achava
que não podia ser e que não fazia sentido. Mas talvez fosse novo e
achasse que guerilha política é que era. Hoje, porém, vejo que o
objectivo último da política devia ser esse: alcançar consensos, sim.
Sem haver obrigação institucional para isso, mas uma pressão ética e
moral para tal.
Era
bom que os líderes dos nossos partidos se concentrassem nisso, para que
as políticas de crescimento de que tanto precisamos possam ser
continuadas e para que o país real – que claramente não é o do Palácio
das Laranjeiras – possa saír do buraco.
Portugal não é pior do que qualquer outro país no mundo. Só merece é gente à altura de o governar.
Mas não me posso ir embora sem falar de uma outra novela: a dos swaps.
Eu
sou da opinião que, em política, as aparências contam. Como diria a
menina que foi corrida do senado texano por dizer o que pensava “vocês
são o meu governo e, sim, posso julgar-vos”. Se há gente com o nome
ligado, ainda que remotamente, a esta polémica que tanto dinheiro nos
custa, acho que se deviam chegar à frente e esclarecer as coisas. Para o
bem ou para o mal, a ministra das Finanças já o fez. Mas o governo
perseguir gestores envolvidos nisto e depois nomear outras pessoas
potencialmente ligadas a esta cena para gerir o drama desta mesma cena é
que não está com nada.
Esta
falta de coerência do governo – que tantas vezes se faz notar – cai mal
no povão. Mas, como se vê, o povão é o que menos importa a certa gente.
E,
mais, a oposição pedir demissão depois de demissão também não traz nada
de novo à novela. A oposição devia era documentar-se, provar, apurar e
depois dar o golpe de misericórdia.
Porque uma coisa são as aparências para quem vota e o que se tira daí, outra coisa são acusações políticas.
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