4.3.13

As senhoras de lenço ao pescoço da Chanel são sempre de desconfiar

Veio a madame Caeiro falar do movimeto Que Se Lixe a Troika. Disse ela, lá do seu cantinho na Lapa, que este movimento não apresenta soluções e que só quer é a desgraça do país e tal. Também disse que a maioria das pessoas na manifestação do passado sábado não teriam lutado pela liberdade de que gozamos hoje em dia. E que ela jamais iria a uma manifestação destas. E no meio disto ainda referiu que, pronto, os pobrezinhos que moram fora do seu condomínio privado passam dificuldades.

E eu digo-lhe o seguinte, cara madame Caeiro: O movimento Que Se Lixe a Troika (com o qual tão-pouco me associo) é um movimento cívico de contestação. Espelha aquilo que o governo, do qual faz parte o seu partido, parece não ver: as pessoas comuns perdem qualidade de vida a cada dia que passa. Uma desempregada com um subsídio do governo de pouco mais de oito euros não é normal. Pode ser para si, que claramente desconhece a realidade, mas não é normal para o comum dos portugueses que, como eu, vai esticando o dinheiro para que chegue até ao final do mês.
Normalmente, eu diria que quem aponta um problema devia também apresentar soluções. Mas a este nível, digo, isto não se aplica. É para isso que servem os políticos: para olhar para a contestação em todos os sectores e tentar desenhar políticas que nos metam no caminho certo, mas que levem em conta as necessidades das pessoas. Afinal, a política é das e para as pessoas. Ou pelo menos devia ser.

Aproveito também para lhe dizer que não defendo subsídios para tudo e todos. Muito pelo contrário. Senão temos um universo de agarrados. Mas a senhora que referi acima, como tantas outras, quer é um emprego. Que a possa sustentar com alguma dignidade. E as políticas que estão a ser seguidas não permitem a ninguém ter esperança no dia de amanhã. Ainda que o nosso primeiro diga que no mundo pós-troika o mundo será de céu azul e cheio de arco íris e borboletas.

Depois também me pergunto se terá visto as imagens da manifestação do passado sábado? Ou será que lhe dá asco sequer olhar para elas? É que se fizer zoom vai ver que as pessoas que lá estavam eram, em grande parte, mais velhas. Mais velhas que os meus pais. E que terão vivido a ditadura e, à sua maneira, combatido tal monstro. É preciso ter-se cuidado com o que se diz a quem a sustenta, madame Caeiro. Cai no erro do ulrichiamento. E isso é feio.

Desafio-a a passar cá por casa. Vamos dar um passeio pela Linha de Sintra, pelos postos de trabalho que se perdem porque este governo está a sufocar a economia e, lá está, esta só funciona com o movimento de dinheiro. E note que não digo capitais, que não sou desses. E vamos a casa da tal senhora que recebeu oito euros do governo. Não se admire é que uma mulher com mais de quarenta anos viva com os pais. Mas vamos de comboio. Se houver.

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