1.2.15

A tragédia grega

Há uma semana só se ouvia falar de como a Europa ia mudar, de como a Grécia - berço da democracia - ia dar uma lição à Europa. E o mundo ia ser feito de arco íris e borboletas.

Já há uma semana pensava que essa era uma assunção demasiado optimista e hoje parece que já se concorda que o Syriza vai ter que mudar um pouco a conversa. Mas a questão será saber se será só o partido grego a mudar... Quer-me cá parecer que serão precisos compromissos.

Acho muito interessante que o novo primeiro-ministro grego se recuse a falar com a troika. E exija que isto seja tratado ao nível da União Europeia. 
Acho que esta mudança de paradigma é necessária. Afinal a Grécia pode precisar de ajuda, mas também não se pode deixar esmagar por esses radicais da troika.
Estabelecer um diáologo verdadeiramente político ao nível das instituições que nos mantêm juntos é o caminho a percorrer e devia ser essa sempre a forma de comunicarmos, em vez de se despachar um grupo de tecnocratas para Atenas. Ou qualquer outra capital necessitada.

É bem verdade que a Grécia precisa de reformar muita coisa - qual o país que não precisa de se ir aperfeiçoando!? - mas é justo que se lhe exija um ritmo que a impede de crescer? Que fere os seus cidadãos? Acho que não. Acho sinceramente que se devia pensar a longo prazo e pensar-se em reformas exequíveis, para serem feitas mas que também permitam o crescimento da economia para que o país possa andar para a frente. E pagar o que deve sem roubar ninguém.
Mas, não, os tais radicais querem tudo já e agora. Como se os mercados não ficassem igualmente apaziguados se houvesse um plano estruturado e objectivo de longo prazo.

De resto, é preciso não esquecer como o Syriza chegou ao poder. Chegou lá pelo voto do povo descontente com o rumo do país. 
Não vale a pena escrutinar o passado constantemente. O presente é o que é e os gregos fizeram ecoar o seu descontentamento elegendo um partido chamado de radical mas que, no fundo, promete respostas aos anseios do povão. E parece que os partidos tradicionais não conseguem entender isto. 

E assim desaparecem.

Mas uma coisa é um Syriza ganhar na Grécia e haver pequenas ondas de choque na Europa. Outra coisa é o Podemos ganhar - ou crescer muito - na Espanha. Aí as reacções serão muito diferentes e as ondas serão um verdadeiro tsunami.

Lamento que a política que se siga seja, ela sim, radical ao ponto de esquecer quem está na mó de baixo. Até darem o grito do Ipiranga e mandarem o establishment dar uma volta.

A Grécia já nos ensinou qualquer coisa. Mas a política é, geralmente, reactiva. E reage ao embate maior, somente. Por isso vamos ter que esperar para ver. Mas não me parece que as coisas fiquem exactamente como estão.

(Uma última nota para referir a tontice das declarações do nosso primeiro-ministro suburbano no que toca ao "partido vencedor das eleições gregas". Pode ter uma agenda diferente e pouco realista, mas não deixou de ser legitimada pelo povo de um país soberano e democrático!)

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